13.5.02

Vários dias sem postar. Muitas, muitíssimas coisas para serem ditas. Extremamente longo, cansativo, e dividido em tópicos para sua comodidade:



I. Bôdas de Ouro

Esse fim-de-semana, viajei para São José dos Campos, para comparecer à comemoração das Bôdas de Ouro dos meus avós. Para quem não sabe, essa é a comemoração de 50 anos de casados. Cinquenta. Anos. Difícil realizar uma coisa dessa, é basicamente duas vezes e meia meu tempo de vida. E esse é só o tempo que eles passaram efetivamente juntos. Eu brinquei com a minha avó que a festa de Bôdas de Ouro está entrando em extinção, mas falem sério, alguém aqui consegue se imaginar 50 anos com a mesma pessoa? Morando, vivendo, amando a mesma pessoa? Acho que essas gerações mais novas, pós-liberação sexual, são muito complexadas para chegarem a sequer 25 anos. Sinal de modernidade? Talvez. Mas eu lhes digo, não há nada de artificial ou forçado no casamento dos meus avós. Eles sempre se gostaram de verdade, vivem um eterno namoro. Mesmo depois de 50 (!!) anos.

A festa foi um show à parte. Engraçado, conforme a gente vai crescendo, vai percebendo nas pessoas que conhecemos desde sempre (pais, tios, parentes em geral) nuances que antes não captávamos. Já tem um tempo que eu passei a ver a relação do meu pai com meus tios como uma relação de irmãos. Dá uma sensação de que eles não são mais do que adolescentes reprimidos, mas ei, somos e seremos todos assim. Agora, o que eu não tinha visto ainda, nunca, era minha avó e meu avô como adolescentes. Mas bastou eles dois chegarem no Clube de Campo São José, onde seria a festa, e encontrarem vários amigos de longa data - alguns que estiveram presentes na cerimônia original - que de repente minha avó tinha 20 anos outra vez. E estava para se casar outra vez. Não sei se foi por isso, ou se foi a hora em que eles dois entraram lado a lado na capelinha minúscula onde iria acontecer a bênção das alianças, e que eu vi que, nos olhos da minha avó, a capela tinha virado uma catedral, por onde ela deslizava com um longo vestido branco inexistente. Não sei. Só sei que jamais entrarei naquela enorme casa da mesma maneira. E jamais olharei para meus avós da mesma maneira, como avós. Menos rótulos, mais humanidade. E isso é bom.



II. Formula 1

Sem comentários. Muita gente se revoltou com o Barrichello por ele ter realmente dado passagem ao Schummi no fim das contas, mas sabe do que mais? foi LINDO. Se ele tivesse desobedecido as ordens da Ferrari, ele ganharia o GP, ninguém saberia de nada, e ele estaria em maus lençóis dentro da escuderia. Mas ele foi o supra-sumo do profissional e do correto. Fez o que tinha que fazer, fez BEM, e fez de modo que TODO MUNDO percebesse o que estava acontecendo. No final da corrida, numa cena pavorosa, o mundo inteiro vaiou - a equipe. Ele saiu por cima. Ele humilhou a Ferrari jogando toda a hipocrisia dela no ventilador, e ainda assim ele fez isso dentro das regras da própria equipe, dentro das regras do contrato (renovado por 2 anos, a hora perfeita para ele se impôr), dentro das regras de conduta. A rebeldia infantil só serviu para atrapalhar a carreira do Rubinho durante vários anos. Agora ele subiu de nível. Agora, mais do que no ano passado, ele venceu. Não a corrida, não o campeonato, ele venceu a podridão do sistema. Ou ao menos escancarou ele em rede mundial. Impecavelmente.

Sem contar a falsidade do Schumacher no pódio, que não enganou ninguém. E o Rubinho jogou o jogo, mas não recusou o troféu nem o degrau mais alto. E ninguém, ninguém tinha moral nenhuma para dizer que ele não podia estar ali. Deu até um pequeno orgulho reprimido de ser brasileiro.



III. Corinthians

Olha, tudo bem que o São Paulo é freguês. Mas cara, ninguém tem NOÇÃO do que é uma família de italianos inteira assistindo futebol juntos. Não é para os fracos de coração, não. Mas é delicioso. A sala estava transbordando de corinthianos, sãopaulinos e uns palmeirenses que, na falta de um time bom o suficiente para chegar na final, ficavam torcendo pro juiz. Logo aos 2 minutos, tive que aguentar a sampaulinada fazendo algazarra. E o pior não é isso. Um bom Savastano não só comemora um gol, tem que esfregar na cara dos torcedores adversários da maneira mais humilhante. Numa boa, não sei como não sai porrada lá! Acho que é porque tá tudo sempre em família, se fosse alguém de fora falando um 'pio' seria massacrado.

Mas o jogo foi virando, virando, Corinthians fazendo pressão, até que igualaram os cartões. Passamos a estar levando o título, mas não tava bom! Ganhar por 'melhor campanha'?! Fala sério, é mais humilhante que perder. Fora que tava 1x0 pra eles. Desconfortável como já estava, no segundo tempo chega um primo meu - Vítor, o Mala - pulando e gritando "São Paaaulooooo" que nem um macaco! Ele não calava a boca um segundo sequer!! Até quem tava torcendo pro São Paulo queria tirar o pentelho da sala, e ele berrando e falando um monte de bobagem, e a gente aguentando, aguentando... achei que era meu fim. Mas eis que, aos 33 minutos, derrubam o Ricardinho. Suspense, todo mundo se ajeitando nas cadeiras. Esperança de desafogar pros corinthianos, perigo pros sampaulinos. Rogério ajeita pra bater, e o Vítor declara em voz alta: "Se for gol, eu me mato!"

Mermão... foi ali mesmo! Acho que as forças do universo tiveram pena de nossas pobres almas, e mandaram uma iluminação divina. A bola demorou longos e arrastados segundos para descrever a trajetória perfeita e entrar matando a coruja no ângulo esquerdo do gol do São Paulo. Foi a glória. A sala explodiu gritando GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL... mas naquela hora o jogo nem importava mais. Foi a nossa deixa para encher o Vítor de porrada! :) Ele desapareceu embaixo de uma montanha de corinthianos enfurecidos, e o resto dos saopaulinos horrorizados subitamente arranjaram várias coisas para fazer em outros cômodos! Eu nunca ri tanto na minha vida. O vitão sai troncho de lá de baixo, mas não falou nada. Nem um pio. Nem até o fim do jogo, nem depois dele quando a galera foi pra rua fazer buzinaço. Aliás, foi muito bom estar em SP nesse dia, cansei de comemorar os títulos do meu time em silêncio nessa terra de Framenguistas. Enfim, um dia memorável, e um título idem.

Pena que o Brasiliense não vai ser tão fácil. Ô timezinho carrasco! Mas vamos ver se o juiz colabora outra vez, hehehehehehe.



IV. Conde de Monte Cristo

Eu confesso. Não li o livro. Não conhecia a história. Sabia que era de Dumas, e só. Mas ainda assim, aquele final feliz abobado de filme americano me incomodou. Não preciso ler o livro para imaginar que o original não tem happy end. Não combina com a história. Dantes, o pseudo herói, só faz desonrar o juramento que fez ao Padre o filme inteiro. E no final ele ganha uma mulher, um filho e grana pacaraio? Qual a moral da história então? Algo do tipo "Use o poder nuclear para varrer o oriente médio da face da terra, porque vingança é legal e ter piedade é coisa de viado"??

Mas deixe estar. Já estou satisfeito que consegui empurrar minha carteirinha vencida para o povo do cinemark e não paguei inteira por essa joça. Afinal, tenho que economizar para essa sexta-feira!! Meu sentido de aranha me diz que vem coisa boa por aí...



Enfim, esse foi o final de semana do Wind. Fiquei com vontade de colocar uma receita de bolo no meio do post só pra ver quantos de vocês leriam, mas quer saber? Blog não é trabalho de religião. Lê quem quer, comenta quem tem paciência. E escreve quem não tem nada melhor para fazer. Ou quem tem, mas tem preguiça. Como é o meu caso aliás.

Mas deixemos de lero-lero, já está na hora de me arrumar para a facul. Suspiro...



Wind

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