24.5.02

Doa-se um amigo




Não, não estou doando amigos para pessoas carentes de atenção. Caso alguém não tenha notado, o título é uma piada com aquele textículo "Procura-se um Amigo" que todo mundo já deve ter ouvido umas setecentas vezes na vida. Porque esse texto se presta a falar de amigos que você deixa de querer próximo de você. Não que decepcionam ou que traem - pois esses deixam rapidamente de ser amigos - mas aqueles que de um dia para o outro, você deixa de sentir falta, e passa inclusive a sentir excesso. E o processo todo foi em você e não nele.

Antes que alguém me acuse de estar mandando indiretas via blog, que fique bem claro: Não estou comentando isso porque estou passando pela situação. Não estou, e tampouco passei recentemente. Escrevo agora com a benção do distanciamento, e mesmo porque esse é um assunto sobre o qual só se pode dissertar publicamente quando não se está atravessando, sob risco de perder mais amizades do que gostaria. Mas vamos à situação.

Sou só eu, ou alguém aqui já passou pela situação incômoda de perder o interesse em alguém? Algum amigo que você preza muito, que rola muito papo, muita 'química' (não no sentido sexual necessariamente, só química de carismas), e de repente você muda e se desinteressa. E a pessoa começa a te irritar com a mesmice, pois você mudou e ela não. O que fazer?

É muito difícil pensar sobre isso. Afinal, o desinteresse é em grande parte 'culpa' (não sei se cabe bem esta palavra) sua, e a pessoa continua sendo sua amiga. Você continua sentindo o mesmo afeto, continua querendo o bem dela, gostando de uma forma geral. Só não consegue mais conversar como antes, não tem mais assunto, os assuntos dela ficam enfadonhos, e você começa a acumular estresse por aguentar uma situação incômoda pelo bem da... do quê mesmo?

Que espécie de amigo estamos sendo afinal se escondemos do outro nossa situação? Será que é mesmo a melhor solução fingir que está tudo bem e deixar a coisa acumular? Duvido, isso só faz com que a sua realidade e a dele se distanciem, e aí o pouco contato vai para o espaço de vez. Isso se a sua capacidade de absorção não extrapola o limite e você explode de vez, fala as coisas da maneia mais afiadas possível, e destrói a amizade além da capacidade de retorno. Não, o melhor é conversar. Mas aí vem outra dúvida terrível: COMO contar para alguém que você perdeu o interesse?

Apelar para o cliché "o problema sou eu" além de ser cafona e estigmatizado negativamente à última potência, parece desculpa esfarrapada pra fim de namoro. Se é para ser sério, temos que falar sério. E falar sério envolve uma longa discussão sobre "Por que o fato de eu achar seu papo um porre não necessariamente significa que eu não preze sua amizade". 90% das chances são de que a pessoa não compreenda isso e você perca o amigo. Se não de vez, ao menos por um booom tempo, e a relação não voltará a ser a mesma. Mas até aí, o fato de ela não ser a mesma foi a origem de todo o problema...

Acho que o certo é largar mão. Não da amizade, lógico que não, mas da inércia. Do medo de tomar a iniciativa, do medo de estragar algo que já está estragado. Chega e fala mesmo. Muitas vezes as pessoas nos surpreendem com sua sensatez. E muitas vezes durante a conversa, você descobre que o motivo do afastamento era alguma coisa completamente diferente do que vc imaginava, e só precisava falar para exorcizar e trazer tudo de volta ao normal.

Aliás, esse conselho é válido para qualquer situação, em qualquer tipo de relacionamento interpessoal, a qualquer nível. Falar é muito bom. Saber falar, saber escutar, é melhor ainda.



Wind

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