10.1.09

Se tem uma coisa que me frustra, é ser cada vez mais incapaz de assimilar e racionalizar minha própria vida. Era algo que eu fazia com relativa facilidade ao longo da adolescência (afinal, tinha bem menos vida para analisar, e vários aspectos dela ainda eram desconhecidos), e de fato me orgulhava das minhas autoanálises sempre tão acertadas. Acho que pessoas que não questionam e não avaliam as coisas deixam de subir no bonde da maturidade para vagar a pé e sem rumo pela vida. Mas tanta coisa aconteceu de lá para cá que o próprio volume de dados tem dificultado e ralentado o processo. E eu, como todo bom TDAH, abomino processos lentos.

Depois das grandes mudanças do ano passado, eu tive que botar para funcionar músculos analíticos que há muito estavam adormecidos ou funcionando no automático, terceirizados. Cheguei a alguns pontos importantes que, teoricamente, me revolucionaram o pensamento e me fizeram entrar num novo estágio de maturidade. Mas não raro eu me pego conjecturando se na verdade não involuí mais ainda, se não voltei a ser um adolescente despreparado dando murro em ponta de faca para aprender que corta.

Acho que é uma consequência natural do reaprendizado, ter que revisitar fases da construção do caráter que já havíamos superado. Algo como fazer um novo vestibular depois de formado. É sempre tudo tão diferente, e, ao mesmo tempo, tão estranhamente igual. Até a sensação de nostalgia e deslocamento está lá. E o desespero eventual de achar que já estive ali antes e que não estou de forma alguma andando para a frente.

É como o que acontece comigo quando eu passo algum tempo sem nadar. A maior dificuldade de retomar natação depois de um intervalo grande (festas de fim-de-ano, férias, etc.) não é a condição física ou a resistência. É a apnéia. Toda vez, é um esforço para convencer meu cérebro que meu pulmão tem oxigênio suficiente e que eu não estou morrendo e não preciso iniciar movimentos espasmódicos de sobrevivência. Não costumo levar mais do que duas ou três chegadas para bloquear o instinto, mas são momentos intensos em que a razão batalha com o inconsciente, e sempre enfrentando a real possibilidade de perder.

Alguns aspectos da minha vida atualmente são como uma longa submersão. E eu tenho plena consciência de que fui eu que escolhi dar o mergulho, movido por vários sentimentos, e dentre eles, obviamente, a necessidade de me testar e de vencer a desorientação e a falta de sentido que a depressão do ano passado me deixaram como aftertaste. Mas toda e qualquer segurança que eu demonstro vem unicamente da certeza que: 1) eu já fiquei submerso no turbilhão por mais tempo antes e sobrevivi; e 2) apesar do meu subconsciente não acreditar, existem benefícios a serem colhidos por viver mais essa provação.

Infelizmente, isso não impede o subconsciente de me fazer passar por um terror sobrepujante, e de me perguntar às vezes se isso tudo vai mesmo acabar bem, se eu não cometi algum erro monstruoso de cálculo que vai por tudo a perder. E as consequências de um erro a essa altura do campeonato seriam mais do que eu sou capaz de aguentar, porque por mais controladas que sejam as condições, o meio onde me desloco é potencialmente fatal.


Wind