27.5.02

*** Post Longo. Distância max. 20 m ***

Eu vi a lua três vezes durante esse final de semana. 3 vezes, embora eu sinta que ela estava lá me vigiando o tempo todo, mesmo durante o dia. Fiquei muito ciente da lua esses últimos dias, como sempre ocorre nas minhas viagens que insistem em calhar com sua fase Cheia. Estive pensando - e comentando, até - que, exceto quando observada com esse estrito propósito, a Lua que olhamos não nos mostra um corpo celeste que reflete a luz solar. Quando olhamos para a Lua, algo se processa em nossa mente que nos remete a uma introspecção. Falo isso com plena consciência da carga histórica, religiosa e mística da Lua, mas sem utilizar-me disso. Olhando para o céu ontem como se fosse a primeira vez, tive que me concentrar para pensar nela como um satélite natural sem luz própria e blablabla. A primeira coisa que me vinha era uma sensação estranha, como se um facho de lanterna fosse lançado sobre milhares de coisas que fervilham no escuro, dentro da mente. Como se repentinamente tudo se revelasse em sua forma verdadeira, e permanecesse exposto assim por quanto tempo eu ficasse a fitar a luz de Luna. Como alguém que chega e nos diz exatamente o que sentimos, uma mãe que já passou por tudo o que passamos, que nos compreende a nível genético, e que nos guia pela mão gentilmente. Luna foi minha guia nessa viagem.

A primeira vez que a vi, ainda no ônibus de ida, na madrugada de Sábado, não a enxerguei a princípio. Ela estava encoberta por nuvens pesadas, assim como o futuro daquela empreitada que ali começava. A semana não havia sido positiva, e eu já não esperava coisa alguma do Encontro. Ainda assim, ela brilhava forte, e foi por isso que a vi. Sua luz intensa atravessando a camada de nuvens me chamou o olhar, e ela me prometeu me acompanhar, me resguardar e tomar conta de mim.

O Sábado foi bom. Muito bom. Sem grandes bagunças ou festas ou gritarias como nos outros anos. Esse ano, nada de guiar o grupo pelas ruas, nada de fazer esporro barulhento no hotel (que por sinal é ótimo, o melhor hotel que já nos hospedamos em toda a história dos Internacionais, de muito longe), nada de hype adolescente. Estavamos todos lá, quietos, conversando normalmente como todos os dias, às vezes nem conversando. Só estávamos ali. Reunidos. Curtindo a presença de amigos que não víamos há muito tempo. Ganhando novos amigos. E isso foi tão transbordantemente calmo e bom que eu dura e sinceramente nem dei pela falta dos que não foram. Claro que adoraria que estivessem lá, faria a festa ainda mais legal. Mas tenho que dizer que não pensei em nenhum momento "Que falta que fulano está fazendo". Talvez por falta de tempo, provavelmente por isso. Mas o importante é que, no fim das contas, os imprevistos não estragaram a diversão. Podem tê-la diminuido em seu potencial, mas eu jamais saberei.

E assim, a segunda vez que vi a Lua esse fim-de-semana, ela estava alta no céu. Logo acima de minha cabeça, seu brilho esplendorosamente banhando cada centímetro de um céu sem qualquer nuvem. Aquele brilho intenso, porém calmo, plácido, próprio dela. Refletindo a compleção e a plenitude da minha alma naquele momento. De fato, a última lembrança que tenho da noite - antes do álcool sorrateiro roubar minhas memórias e me deixar com flashes confusos e nebulosos no lugar - é de estar olhando para ela fixamente, inebriado daquela luz. O resto da noite não merece ser mencionado.

O Domingo foi a extensão natural do Sábado. Pela primeira vez em Internacionais se bem me lembro, o grupo passou o Domingo inteiro junto também, lá no evento mesmo, sentados, lendo, jogando conversa fora. O dia acabou na rodoviária, divertido até o último segundo, ainda que com aquela sensação de pós-sonho, quando um a um os amigos partiam de volta para a vida real. Eu fui senão o último a partir, e o cansaço me derrubou facilmente na poltrona do ônibus.

E foi hoje de manhã, depois de chegar no Rio novamente, num outro ônibus, urbano, que eu a vi pela terceira vez. Dessa vez a visão foi recebida com uma gostosa risada. Pensei se Luna não deixava o céu por sequer um segundo. O sol já fazia a claridade se insinuar no leste, e ela ainda estava bastante acima do horizonte ocidental, mostrando que também a jornada dela ainda entraria pelo dia adentro antes de finalmente nos deitarmos para um merecido descanso.

E nesse pequeno intervalo entre chegar em casa e sair de casa é que resolvi escrever sobre nosso fim de semana. Meu, dos meus amigos, e de Luna, que pairou sobre nossas cabeças em tempo integral, olhando sobre esse adorável bando de malucos. Claro que não faltaram imprevistos. Eu tendo que pagar a diária do hotel inteira porque Averon e Presunto desapareceram na hora de ir fazer check-in, eu de estômago vazio o dia todo bebendo um drink que era basicamente todas as coisas alcoólicas do balcão misturadas num copo, e as óbvias consquências disso (Val, meu anjo, não posso te agradecer o suficiente por ter me carregado de volta), a gente esquecendo da Ninja na estação do metrô e lembrando no meio do caminho, a sessão de cinema que lotou antes de comprarmos os ingressos... mas mesmo quando eu pensava "ih, agora deu merda", as coisas caiam no lugar. As pessoas voltavam, objetos se achavam, a turma se reagrupava. E tudo terminava bem, sem uma gota de estresse. Apenas deixando aquela sensação de que em alguns dias vai bater uma enorme saudade.

Ainda bem que tem todo ano.



Wind

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