6.9.05

This used to be my Playground

É isso. O último castelo da minha infância se foi. Até o fim do mês, tudo o que eu vivi naquela imensa casa, tão fora de escala, tão fora do mundo que a cercava, vai estar enterrado, aplainado e tomado por uma escola. Assim, súbito, inesperado, mas não rápido o suficiente que me impeça de sofrer. Aliás, na dose certa para ser horrível.

Desde que eu me conheço por gente - antes disso, até - a casa da minha avó foi uma realidade paralela. Ficava em São José dos Campos, SP, mas nem parecia. Só muitos anos depois eu fui sequer saber como era a cidade do lado de fora dos muros de pedra. Ela era uma cidade contida em si, um mundo à parte. Imensa - a maior casa que já conheci e já visitei, sem sombra de dúvida - de paredes grossas, salas imensas, corredores e escadas mil. Havia lugares naquela casa que eu nem sequer conhecia - ainda há hoje, pelo menos um cômodo, o segundo sótão, em que eu jamais entrei. Lá, a realidade se fundia com meus sonhos de passagens secretas, túneis subterrâneos, tesouros escondidos. Lá, mais de meia centena de crianças cresceram e viveram, correndo desembestadas pelos corredores, descendo a ladeira proibida, pulando na piscina, correndo atrás dos cachorros (e vice-versa), explorando o porão do salão de festas como arqueólogos que descobrem a tumba do pai de Tutancâmon! (e era bem capaz dele estar ali, mesmo).

Lá, as vozes altas e vigorosas da família italianíssima ecoavam e retumbavam pelos cômodos. Cada natal, cada aniversário, cada pequena festa lá era um evento, com tantos parentes reunidos, todos animados, gritando, berrando, tantas crianças pulando e rindo. Passei todas as fases da vida lá. Nunca, nem quando eu morei em Salvador, eu passei mais de um ano sem botar os pés naquela casa. Ela me viu em todas as fases. Sentiu todos os meus humores, presenciou meus choros escondidos, embalou meu sono, riu da minha revolta com os mosquitos que a infestam e que me roubaram várias noites preciosas... me viu passar sonolento por lá por incontáveis domingos à noite, voltando do sítio e a caminho de São Paulo. Me ralou, escoriou, bateu e inchou cada vez que eu, criança sem freio, me arrebentava em seu chão de ardósia ou seus postes. Rachou minha cabeça com uma grade certa vez. Nem por um instante fiquei menos íntimo dela.

Conheço cada cantinho esquecido daquele lugar, e olha que existem muitos! Sei o que tem atrás de cada canteiro, embaixo de cada caixa jogada na Garagem ou no salão... conheci e brinquei com 20 mil cachorros que se revezavam vivendo lá em cada época, convivi com primos que eram quase irmãos, e sempre os reencontrei, mesmo que só de passagem, cada vez que voltei lá. Criei ódio do clima de buxixo, da fofoca velada, das intrigas familiares que eram uma faca no meu coração. Aprendi que os primos que se lascavam de bicicleta ao redor da piscina também cresceram, e eram agora os primos que saíam para sentar no boteco e jogar sinuca. Aprendi a ler - ou pelo menos aperfeiçoei a arte - no meio dos livros mais loucos que eu desenterrava da biblioteca. Criei uns duzentos clubinhos, e cada um deles durava apenas o verão... e cada um deles era sempre o que "ia dar certo".

Todas as brincadeiras de criança que eu conheço na vida, sem exceção, eu aprendi ou desenvolvi lá. A casa foi meu playground. Meu universo controlado. Minha fortaleza, e, em tempos mais recentes, meu canto preferido para me esconder do mundo. Bastava dar uma parada lá, passar uma noite ou quiçá duas, fazendo palavras-cruzadas na sala, ou jogando algum jogo dos meus tios, ou simplesmente dando oi pras pessoas e zanzando pelos ambientes. Sentindo o amor que eu deixei ali pelas paredes, que ainda está ali, e vai continuar ali mesmo quando as paredes caírem e a casa perder seu propósito. Pedaços de mim que eu depositei ali, aos quais eu podia recorrer sempre que me sentia consumido.

As pessoas dizem que eu não sei deixar as coisas irem. E é a mais pura verdade. Eu não sei. Eu escrevo essas palavras de quem sabe que tudo o que passou vai permanecer lá e aqui, dentro de mim, mas eu não consigo me enganar. No fundo, eu não estou preparado, não quero, não consigo. Fico um marmanjo de quase 25 anos com a cara retorcida e secando lágrimas que não param de cair. Eu estou preparado para perder pessoas, mas nunca para perder coisas que deviam ser eternas. Mas nada é eterno. Um dia eu vou aprender. Não é como se restassem muitas outras coisas para perder, de qualquer forma...

Com a casa da minha avó, se vai uma grande, enorme parte da minha vida. Eu queria dizer que não vou passar lá na frente para não ver no que a casa se transformou, mas meus avós estão se mudando para um prédio a menos de 100m rua abaixo. Eu vou acabar vendo. Eu vou ter que encarar e passar por cima. Mas agora, eu só consigo tentar lembrar de algum recanto da minha infância que não tenha sido levado pelo tempo ou pelo acaso. E a contagem está muito, muito baixa.

Ainda assim, de todas as coisas que eu achei que um dia perderia, aquele castelo era o que eu menos esperava. Enfim. Acho que o jeito é erguer a cabeça e tentar construir, na minha própria família, algo no mínimo tão bonito e tão inesquecível quanto aquela casa. É uma tarefa hercúlea, quase impossível. Mas é para o futuro que eu tenho que olhar agora.

Mais um lar que viverá para sempre, mas só nos meus sonhos...

Desculpem o dramalhão.


Wind

15.7.05

A cena pública do país está um caos recentemente, e mais cedo ou mais tarde todo mundo acaba sendo tragado para dentro do assunto, independente de tendências políticas. Nesses dias, tenho lido e ouvido muita coisa bizarra, muita guerrinha de mamona entre boçais de todos os lados da questão, enfim - coisas habituais em cenário de crise política. Porém, uma das coisas que mais me chocou foram algumas reações ao lance da Daslu.


Em primeiro lugar, quero deixar claro que eu nem fazia idéia de o que caralhos era Daslu, ou mesmo da existência de um lugar assim, até anteontem. Mas, a julgar por tudo que li de diversar fontes (não posso dizer que eram neutras, isso realmente não existe, mas digamos que eram várias, e cada uma tendenciosa para um lado), é uma meca do consumo de luxo da elite paulistana (*cospe*), que revende aqui as marcas überfashion da Europa e dos Istêites. Essa é uma maneira de dizer. A outra, é Muambeira de Luxo. Eu particularmente fico com a mais sucinta.


O que me chocou no caso da Daslu, foram alguns argumentos jogados por aí pela voz do "popular" (e todo mundo sabe que o popular, na internet, ou é elite, ou elite wannabe - Em esmagadora maioria, os pré-adolescentes dessas supracitadas castas.), que realmente me fazem pensar sobre o quão enviesado é o pensamento neoliberal brasileiro.


Nesses dias de crise política, mensalão e os quiabo a quatro, os neoliberalistas (leia-se PSDB) têm se comportado de uma maneira muito estranha. Bem diferentes de seus "colegas" de oposição do PFL - múmias coronelistas que ainda fazem política como se fazia no Brasil Colônia - eles não têm apelado para as macaquices retóricas e a ironia engraçadinha em rede nacional, ou o grito farrista de impeachment, bradado só pra ver se cola. Ao invés disso, estão tentando (quase) sutilmente fazer pose de "nós éramos bem melhores", contando com o retorno da opinião pública aos braços de Fernando Henrique depois de uma experiência ruim com a esquerda petista. Só que eles não sabem disfarçar, mas tudo bem. A gente finge que não ouve quando eles sugerem descaradamente para que notemos por livre e espontânea vontade como eles são magnânimos - até um Arthur Virgílio da vida ter um ataque de pelanca porque a tática não deu certo e perder a compostura, isto é.


Só que, como todo partido, o PSDB tem aquele público fiel de carteirinha, que tem o partido estampado no DNA. No caso do PT são alguns punhados de sindicalistas e artistas. No caso do PL, são os fiéis da Universal. No caso do PDT, os eternos Brizolistas, meio sumidos ultimamente porém facilmente reconhecíveis após umas duas cervejas em qualquer bar. No caso do PFL, o exército de analfabetos e os moradores das cidades das quais o partido é proprietário. E, no caso do PSDB, é a playboyzada paulistana e seus admiradores. Que, infelizmente, na tabela de random encounter da internet, são a criatura mais comum.


Esses infelizes, no afã de defender o símbolo do poder econômico deles (que foi revelado para o país como sendo um camelô de luxo, para horror e humilhação desses novos-ricos cafonas), têm apontado o dedo com veemência para a Polícia Federal. A coisa que mais li nos últimos dias foi neguinho dizendo que foi uma "operação pirotécnica". Ok. E DAÍ?!?! É muita distorção de realidade achar que ALGUMA coisa que aconteceu no último MÊS não foi pirotecnia. É um processo tão natural que já devia até passar em branco. Há algo de podre no cenário nacional, então todas as forças políticas começam, cada uma, a fazer sua própria queima de fogos. A PF fez show ao chamar a imprensa na hora da batida? Fez. Mas e a Veja, e seu denuncismo tão descarado que me dá engulhos? O que ela e as outras revistas semanais fazem não é pirotecnia não? A bancada do PFL e suas piadas engraçadalhas diante das câmeras na CPI dos Correios, não é pirotecnia? Alguma manchete de algum jornal, nos últimos 10 anos, não foi pirotecnia? Encarem o fato: a imprensa vive de espetáculo. Os fatos a gente vê dias depois, quando a fumaça dissipa. Na hora, todo mundo quer é chamar atenção. Meu sonho é um dia haver uma lei que dite uma regra pra se fazer manchete - não o conteúdo, antes que algum boçal venha gritar "censura", palavra das mais mal-utilizadas do mundo moderno, seguida de perto por "nazismo" e "ditadura" - ditando regras gramaticais e sucintas para a comunicação da idéia do texto. Se tem uma coisa que me deixa doente, é o jargonismo sensacionalista que inventa termos "chiclete" para toda crise que aparece, tipo "Anões do Orçamento", "Propinoduto" e "Mensalão".


Os críticos da ação da PF, que mais do que depressa deduziram que era uma manobra para desviar a atenção da crise do governo, se esquecem que foi a mesmíssima PF que achou dólares na cueca de um petista mané, notícia que teve veiculação muito maior do que a batida na Daslu. A mesma PF que achou 10 milhões em malas de dinheiro com um deputado do PFL, e esse saiu ileso e feliz, porque era dinheiro dos fiéis (que, CERTAMENTE, estava indo ser reinvestido em prol do bem-estar das "paróquias"... tsc tsc tsc). Diabos, a mesma PF que deflagrou operação muito similar, mês e tanto atrás, na Schincariol. Podem falar que a PF é espetaculosa, mas dizer que é parcial, pera lá. Outra imbecilidade que eu li é que a visibilidade da operação foi "condenação prévia" de acusados não julgados... bem, pra começar: condenação prévia via imprensa, no dos outros, é refresco, né? Além do quê, a operação começou há 10 meses, bem antes da crise política, e fala sério, foram encontradas notas fiscais duplicadas dos mesmos produtos, com valores violentamente diferentes! Só a Velhinha de Taubaté pra acreditar que é tudo "um engano" e que a culpa das atravessadoras grã-finas ainda não foi provada.


Agora. O argumento MAIS preocupante, de longe, é o que poucos tiveram coragem de falar abertamente, mas que se leu nas entrelinhas de muitos discursos de figurões por aí - o de que a carga tributária excessiva "justifica" a sonegação. Pera lá!! Vamos deixar uma coisa bem clara: sonegação de impostos é CRIME, e quem fala uma merda dessas está justificando um CRIME. A carga tributária pode ser uma merda, e eu bem sei, sendo eu mesmo um pretenso desbravador de uma indústria que é atualmente inviável no Brasil devido à pirataria que, por sua vez, ganha força devido ao excesso de impostos descabidos. Agora. Existem maneiras legítimas de se reverter o quadro, e CERTAMENTE não é justificando um crime com uma situação difícil, ESPECIALMENTE em se tratando de gente que revende Gucci e Christian Dior pra quem chega de helicóptero em sua loja. Daqui a pouco vão estar pegando em armas e assaltando na esquina pra comprar feijão, tão vítimas da sociedade e do sistema que são! Sinceramente! Esses empresários paulistanos que se julgam à frente da realidade do país, e portanto com algum mandato de segurança divino para burlar as regras a seu favor, têm todos que sentar num consolo de 25 centímetros com farinha de vidro, pra deixarem de ser hipócritas. E o mais triste, é que não são eles dizendo isso, e sim os perdedores de classe-média que sonham um dia serem empresários, portanto ficam alegremente levando na bunda com a evasão de divisas que esses canalhas promovem, só para poderem almejar um dia estarem botando na bunda da nação também, sem sofrerem de conflito moral. Muito típico! A síndrome de proteger os ricos porque um dia pretende se juntar a eles.


Enfim. Esse tipo de idiotice, deveras abundante nos filhotinhos de tucano que povoam o Orkut e os comentários de blogs de jornalistas políticos por aí, me deixa realmente triste. Às vezes eu chego até a dar tudo por perdido, mas aí me forço a lembrar que a internet não é representativo de nada senão uma parcela muito pequena e muito parcial da nação - geralmente de direita, para meu horror - e que aí fora tem muito mais gente com bom-senso, ou ao menos, com um insight simplista porém honesto de toda essa merda que os agitadores jogam no nosso ventilador diariamente. No fundo, o tempo é sempre filtro desse tipo de afã do momento, e o que resta quando a poeira abaixa é sempre aquele movimento lento e inevitável em direção ao futuro. Que, me desculpem as dondocas, não está à venda na Daslu.


Wind

24.6.05

Para a minha gata que eu amo;

PLACEBO - WITHOUT YOU I'M NOTHING

Strange infatuation seems to grace the evening tide.
I'll take it by your side.
Such imagination seems to help the feeling slide.
I'll take it by your side.
Instant correlation sucks and breeds a pack of lies.
I'll take it by your side.
Oversaturation curls the skin and tans the hide.
I'll take it by your side.

tick - tock
[x3]
tick - tick - tick - tick - tick - tock

I'm unclean, a libertine
And every time you vent your spleen,
I seem to lose the power of speech,
Your slipping slowly from my reach.

You grow me like an evergreen,
You never see the lonely me at all

I...
Take the plan, spin it sideways.
I...
Fall.
Without you, I'm Nothing.
Without you, I'm nothing.
Without you, I'm nothing.

Take the plan, spin it sideways.
Without you, I'm nothing at all.



Wind
:/

23.6.05

Escrevi de impulso, ficou gigante, não sei o que fazer com isso, então... bora postar no blog! (não faço isso há muitos anos, anyway)
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HEXALOGIA STAR WARS?
por Windblow

Acabo de assistir o DVD "Star Wars: Uma Viagem Musical", que veio junto com a trilha sonora do Episódio 3, e durante a exibição, eu tive uma grande epifânia sobre Star Wars. Ela me trouxe duas importantíssimas conclusões:

1) Star Wars foi feito para ser assistido na exata ordem em que os filmes foram feitos. IV, V, VI, I, II e III. Ok, parece ridículo, masé sério! Desde que foi revelado que haveria uma primeira trilogia, ainda na época da original, todos imaginavam que, uma vez completada, a trilogia se tornaria automaticamente e temporalmente anterior à predecessora. Se os filmes tivessem sido feitos logo em seguida, até poderia ser... mas a trilogia anunciada no final da década de 90 já era outra coisa. Um conceito novo - a "prequel" - que ninguém até agora entendeu que funciona muito bem. Ver a parte final da história, depois ver seu começo. E o final da história emenda-se imediatamente com o começo. Um círculo completo, conceito muito sedutor e interessante.

De fato, eu sinto que as pessoas que se apegam à necessidade de assistir aos episódios de Star Wars em ordem cronológica acabam com a experiência. Sim, porque os primeiros episódios não são tão bons quanto os finais, e no entanto, assistí-los antes ESTRAGA os posteriores. As pessoas fingem que não, mas é impossível sublimar as diferenças técnicas e de ritmo entre as duas trilogias. A tecnologia atual fez George Lucas preencher seus novos filmes de detalhes. Cada tomada decena tem um bilhão de objetos, cores e criaturas. Cada tomada mais boçal possível - uma nave cruzando o espaço - tem alguma transparência, algum planeta colossal ao fundo, no mínimo um reflexo de sol na lente da câmera. A trilogia original abusa de closes e chroma-key impossível de ser disfarçado para preencher a tela em cenas abertas - que são poucas, justo por esse motivo. Enquanto na trilogia original, cada cena de diálogo é filmada contra um pedaço mínimo de cenário, todas as cenas da trilogia mais recente têm vastas paisagens computadorizadas por trás. Por mais que se tenha boa vontade, não dá para sentir continuidade entre o episódio 3 e o episódio 4, independente de quantas vezes George Lucas resolva retocar o filme com computação gráfica. O que me leva à segunda conclusão importantíssima:

2) George Lucas ainda não sabe disso e acha que os filmes têm quefuncionar em ordem cronológica de qualquer jeito!! E isso me dá muito, muito medo. Assistindo ao DVD, que tem clipes dos 6 filmes, acompanhados de suas trilhas sonoras, na ordem cronológica, é visível a tentativa dele de diminuir as diferenças técnicas da trilogia original para a atual. Chega ao absurdo de, em alguns clipes da trilogia antiga, ele usar quase mais desenhos de produção do que imagens dos filmes mesmo. E ele evita ao máximo misturar cenas das duas trilogias (ao menos de maneira lógica para as músicas, que contam as histórias dos personagens. Ele mistura, no entanto, várias cenas que nada têm a ver com o momento da história que a música conta, mas que no entanto têm menos discrepância de qualidade de imagem e ritmo umas com as outras. Apenas duas vezes no DVD há sequências de imagens de todos os filmes com alguma lógica, e essas funcionam muito bem. Falo delas depois.). Conhecendo o senhor Lucas e seu problema psiquiátrico sério com a franquia Star Wars, aliado a sua conhecida opinião de que mudar um filme de 25 anos de idade - e banir as cópias não-modificadas!! - é perfeitamente aceitável, sinto que em algum futuro próximo ele pode acabar desfigurando sua trilogia original, como Michael Jackson fez com o próprio nariz, em busca da sua"visão", e inutilizar para sempre filmes que são importantes na vidade muita gente. Já ouvi até falar que ele vai fazer versões em animação 3D dos seis filmes no futuro próximo, tamanha é sua incomodação com as diferenças entre as duas trilogias. Se isso acontecer, não é muito remota a probabilidade de ele estabelecer que as animações agora são "Star Wars" e banir os 6 filmes anteriores!

Ok, é exagero, mas... será mesmo? :/


Por sinal, só tive essa revelação porque o DVD é a primeira vez que os filmes (bem, cenas deles) são exibidos em ordem sequencial do episódio I ao VI - isso excetuando, é claro, no caso de fãs que viram os episódios I e II em casa, depois o III no cinema, e de volta para casa, emendaram com a trilogia clássica, o que eu obviamente não fiz -, e isso realmente bota os seis filmes na perspectiva que todos sempre esperaram para ver. E dá claramente para perceber que NÃO FUNCIONA! Bem, algumas coisas funcionam bem, mas a maioria não. Anotei alguns exemplos, e como sou um cara positivista, vou começar pelo que funciona:

- Leia. É REALMENTE interessante vê-la como filha da Padmè. Tudo funciona na relação das personagens - a aparência das atrizes, o comportamento da filha e suas semelhanças com a mãe, e ao mesmo tempo a maneira como seu amor por Han Solo é uma redenção das pequenezas do amor de Amidala por Anakin (egoísta e mesquinho demais, na minha opinião). E também é bastante notável o lado que ela herdou do pai, a impulsividade e a autoconfiança. Pra mim, Leia é muito mais a filha de Anakin e Padmè do que Luke, muito embora haja um novo aspecto no personagem dele também, com as referências sentimentais criadas pelos primeiros episódios. Aliás, desde 1982 já se sabe que Luke e Leia são irmãos, mas de certa forma, ter assistido ao nascimento e separação deles (ok, e à clipagem de imagens dos dois, evidenciando-os como irmãos, que tem no DVD, que é maravilhosa) fincou essa idéia tão fortemente que é impossível pra mim agora assistir ao episódio IV imaginando que Luke é apaixonado por ela, o que é essencialmente um ponto no qual a trilogia atual "modificou" a original pra mim)

- Palpatine. A transformação dele no episódio III fez a ponte perfeita entre as duas trilogias para o personagem, e é muito fácil assistí-lo no episódio IV e realmente acreditar que ele está "voltando" para uma última participação depois de ter sido retratado instaurando o império e seduzindo Anakin para o lado negro.

- Darth Vader. Não vou nem me delongar nessa aqui, porque é bastante óbvia. George Lucas queria transformá-lo no fio central da história, e conseguiu.

- Obi-Wan Kenobi. Ewan McGregor conseguiu, no terceiro filme, realmente convencer o público que ele iria envelhecer e se tornar Alec Guinness. Mas isso também não é novidade, porque desde o episódio I ele já passava essa impressão.

- Han Solo. Ok, pode parecer estranho, porque afinal ele é um personagem exclusivo da trilogia original, mas os primeiros episódios conseguem frisar ainda mais as habilidades dele. Afinal, nem mesmo os grandes pilotos da República fizeram qualquer coisa comparável ao que ele faz com a Millenium Falcon. Em uma época em que os Jedi estão extintos, ele escapa com uma lata velha de 3 Star Destróiers e inúmeros TIE-Fighters por dentro de um campo de asteróides. Sozinho. E ele é um humano! Em 3 filmes da trilogia mais recente, com todas as guerras, batalhas épicas e milhões de personagens, nenhuma pessoa normal (não-Jedi) fez o que Han Solo faz pela Aliança Rebelde, sem usar poder nenhum.


Ok. Agora, vamos ao que DEFINITIVAMENTE não funciona. Não mencionarei de novo a discrepância de cenários, da qual já falei ali em cima, mas ela é só a ponta do iceberg. Também temos:

- Textura e idade do filme. Ok, George, nem um bilhão de dólares e um milhão de técnicos poderão apagar o fato de que a trilogia original foi filmada em celulóide, enquanto que os filmes atuais são digitais. Isso faz muita - MUITA - diferença. Nem uma criança de 5 meses sem qualquer informação prévia sobre o que é Star Wars (como se alguém chegasse a essa idade sem ouvir falar...) conseguiria achar que os filmes antigos são uma continuação dos novos. É uma diferença claramente visível em cada quadro de filme. E isso sem falar dos efeitos especiais, hoje em dia tão fáceis de se notar na trilogia original. É como se de repente o próximo filme do Homem-Aranha fosse feito com um ator erguido por cabos de aço contra uma pintura matte de prédios para dar a ilusão de que ele está em Nova York. Por mais que o roteiro fosse a melhor adaptação de quadrinhos de todos os tempos, a quebra de qualidade num produto sequencial seria suficiente para afundar o filme. Simplesmente não convence.

- Yoda. Não, não e não. A evolução dele está toda errada nos filmes. Em "Império", ele é completamente diferente do resto dos filmes, mesmo dos outros em que ele ainda é marionete, mesmo de "Jedi", quando o boneco foi refeito e as feições ficaram parecidas com a do Yoda da nova trilogia. Só que fazia sentido o boneco ser melhorado de um episódio para o seguinte. Porém, não faz sentido ele ser um boneco,depois ser uma computação gráfica saltadora acrobática com mais movimentos e feições do que um chinês de circo, depois outro boneco, com a cabeça afinada e orelhas pequenas, e depois de novo um boneco parecido com o do primeiro episódio. Sem falar na voz, que também mudou do episódio V pro VI, e depois pros 3 primeiros. Enquanto personagem, é bastante plausível, mas visualmente... não rola.

- SABRES DE LUZ!! Se você também fica incomodado quando se pega achando que as batalhas de sabre da trilogia original são caídas, e teme estar cometendo sacrilégio e perdendo a fé, fique tranquilo! Você não está indo para o lado negro, só está constatando o ÓBVIO. Não estou dizendo que as batalhas da nova trilogia deveriam ter sido feitas para parecerem as antigas - pelo contrário, se tem algo que eu amo de paixão nessa nova trilogia, são os duelos - mas também estou dizendo que é HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL não achar RIDÍCULO que DarthVader e Obi-Wan, depois de terem caído na mais linda e feroz porrada jamais filmada, em um planeta de lava, pulando sobre plataformas e voando por aí, fiquem batendo seus sabres de luz desengonçadamente como dois velhos dando bengaladas um no outro, em seu duelo final (altamente grandioso - ou deveria ser) na Estrela da Morte. É simplesmente tosco. Não existe. A NÃO SER que você veja pelos olhos não da cronologia, e sim das épocas dos filmes. Se você admitir que está vendo a segunda parte de uma história, que por acaso conta seu começo (enquanto que a primeira contava seu final), toda a agonia pelos duelos curtos e lentos da trilogia original simplesmente se esvai e você pode voltar a gostar deles do fundo de seu coração! Acredite, é verdade! Faça o que eu digo e veja por si mesmo. :)) Numa observação relacionada, as batalhas espaciais também têm uma queda de ritmo entre as duas trilogias, mas é bem menor e dá pra conviver com o fato muito mais facilmente.

- R2D2. Outra vítima da tentação de usar tecnologia nova para "melhorar" um personagem no passado dele. Onde estão aqueles jatos altamente úteis ao longo de todos os perrengues que ele passa juntodos rebeldes? Diabos, por que ele não os ligou para aparar a queda quando Luke deixa ele cair em Dagobah?!

- Música. Calma, não me linchem!!! Eu explico - a músia de Star Wars é, sem sombra de dúvida, sua melhor parte. Eu amo John Williams, eu tenho todos os CDs de trilha sonora de todos os filmes (menos do Episódio 2 :/// shame on me! Mas corrigirei isso rapidinho), ouço sempre, achei a viagem sonora pela trilogia simplesmente extasiante. PORÉM, por mais que John Williams seja Deus, ele não é onisciente. Não tinha como saber, na década de 70, quais temas teria composto para cada um dos filmes. E quando se usa leitmotif (temas que se repetem ao longo da orquestração para evocar personagens, técnica muito usada por Wagner, por exemplo), a coesão musical é tão importante quanto a coesão da história. O tema de um personagem é parte integrante dele, se ele entra em evidência na cena, o tema dele toca. Se é lembrado, o tema é insinuado. E por aí vai. Uma das coisas que realmente me deixa quase sexualmente excitado na trilha sonora de O Senhor dos Anéis, por exemplo, é que o tema de Gondor, que só aparece na trilha do último filme, é tocado por uma corneta, ao fundo, já no primeiro, quando Boromir fala de sua cidade no Conselho de Elrond. Isso é GENIAL!! O tema estava lá, pronto, o tempo todo. Claro que Gondor só apareceria no terceiro filme, mas ela já existia, já tinha um tema - muito, muito bom, por sinal. Muitos acharam extremamente ousado do Howard Shore guardar um tema como aquele por 2 anos na gaveta - desde o início. E nisso, a descontinuidade de Star Wars atrapalha. Antes, era perfeitamente aceitável que o episódio IV não tivesse a Marcha Imperial, pois ela só foi introduzida no episódio V, como o tema do Império Galático. Só que agora, ela já foi estabelecida no episódio II (já tinha sido insinuada no I), e no III ela é quase que oficialmente transformada no tema pessoal de Vader. Sua ausência no episódio IV passou a ser inexplicável, um verdadeiro vácuo (e já existem rumores de longa data de que George Lucas estaria assediando John Williams para "recompôr" a trilha do episódio IV e introduzir a marcha imperial lá. Pensem em um sacrilégio bem grande...) E mais do que isso, ele introduziu, nos 3 primeiros episódios, temas muito fortes e muito significativos, que não voltam nunca mais nos últimos episódios. O tema da Força virou a linha que guia toda a vida de Anakin (e posteriormente, de seu filho Luke), mas o que dizer de Duel of the Fates? Ou Battle of Heroes (que, pela lógica ululante, deveria ser ao menos mencionada no momento em que Vader "mata" Obi-Wan, mas ao invés disso, toca o tema da... Léia?!) ? A grandiosidade musical da batalha final entre Anakin e Obi-Wan no planeta de lava não é alcançada em nenhum outro momento na trilogia. Pra não dizer "em nenhum momento", por uns 12 compassos, no início da batalha final de "Jedi". Depois disso... entra o tema alegre e saltitante dos Ewoks! ¬¬ 6 filmes e diversas músicas intensamente significativas de carga, e nenhuma revisão final de todas elas no fim da jornada... é um tanto frustrante.

...e outros fatores menores. Mas o fato é: tentar fazer os filmes funcionarem na ordem cronológica é um exercício de boa-vontade e frustração. George Lucas já é patologicamente obcecado com isso, o que resulta em várias cirurgias plásticas desnecessárias na obra dele. Os fãs não precisam ser também. Quem quer que tenha dito que não se pode começar uma história pelo meio, terminar no meio, recomeçar e atingiro meio no final... bem, além de ser meio prolixo, estava mentindo. Star Wars é uma saga cinematográfica muito, muito divertida do jeito que é. Se melhorar, estraga. Literalmente.

E tenho dito!


Wind

31.1.05

Retiro o que disse. Retirado retiradíssimo, com água sanitária e escova de aço. Só não apago o post anterior porque ele é gancho pra esse aqui que vou escrever agora:

Acontece que eu tenho um bando de amigos maravilhosamente sacanas que me ignoraram a SEMANA INTEIRA, enquanto secretamente montavam a primeira festa surpresa de aniversário da minha vida (e, segundo alguns, a primeira bem-sucedida de toda a história ¬¬ O que significa que finalmente alguém foi mané o suficiente pra não perceber antes - EU). Conclusão: sexta-feira, depois de vir pra casa embaixo de chuva pensando em como o dia estava irremediavelmente perdido, eu encontrei um bando de aloprados dentro da minha sala (que bateu recorde de público!! Nem sabia que cabia!), que bateram fotos da minha cara de tacho, cantaram parabéns e ainda fizeram a piada mais infame da minha vida - todos chupando picolés "Wind" ¬¬" - o que, sem sombra de dúvida, me deixou absolutamente arrependido de ter escrito o que escrevi aqui mais cedo! E não contentes em fazer surpresa, ainda me arrastaram pro Armazém do Chopp onde mais gente se juntou à festa e ficamos lá até o cu falar bonjour.

Então, tenho que retificar: meu aniversário esse ano foi muito, muito bom, coroou perfeitamente o ano que eu tive, com a presença de quase todas as pessoas que eu conheci, convivi, e finalmente passei a chamar de "galera" (um ou outro não puderam ir por compromissos inadiáveis, mas mandaram os parabéns de alguma forma ou de outra). Foi uma daquelas noites que você quer que não acabe, que você se sente bem e as pessoas ao seu redor se sentem bem. Como todas as festas deviam ser.

Faço desse texto um agradecimento a todas as pessoas que me enganaram, ludibriaram, despistaram, conspiraram sem meu conhecimento, e até publicaram logs pessoais comigo (heresia!!!) com o único intuito de me fazerem o cara mais besta e feliz da face da terra no dia do meu aniversário de 23# (sustenido) anos de idade.:P

E não pensem que essa travessura vai ficar impune, vocês que me aguardem esse ano!! >D BWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWAHWA!!!!



Wind (não o picolé)

28.1.05

É... aniversário...

Esse aniversário não tá sendo nem de longe o aniversário que meu ano de 2004 merecia. Mas quer saber? Dane-se, eu tenho minha Jobinha do meu lado agora, estou muito feliz, tranquilo, não preciso de mais nada.

Na verdade, talvez de uma massagem nas costas. Mas isso eu consigo fácil, então realmente não me falta nada.


E ai do primeiro engraçadalho que fizer piadinha com minha idade!!!


Wind