30.4.02

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Esse fim-de-semana foi digno de uma bala na cabeça. Claro, existem dias bons e dias ruins. Mas existem também dias péssimos. Dias que fazem você olhar pra tudo e pensar se vale a pena. E pensar muito.


Sexta-feira a noite, recebo uma ligação da minha mãe me dizendo que minha filha morreu. Assim, na lata. Morreu de uma maneira horrorosa, se enforcou na corda da persiana. E a mãe dela estava presa do lado de fora, ouvindo ela miar até a morte. E o pior é que enquanto minha mãe me contava isso, eu ouvia os miados desconsolados dela ao telefone. Minha irmã me disse que a gatinha estava tão enroscada que não conseguiram tirar ela de lá sem ajuda. E que até hoje, qualquer barulhinho que a Bebeca ouve ela levanta e sai correndo pra ver se é a filha dela. E minha mãe me ligou apenas com o intuito de me contar essas coisas. Na sexta à noite! Minha mãe é ótima...

Como se não fosse suficiente, eu passei o fim-de-semana em Saquarema com amigos. Gente que eu não via há um tempinho, achei que ia ser legal viajar com eles. Mas a viagem inteira só foi para me jogarem na cara que o respeito mútuo é uma ilusão. Fui jogado nas situações mais escrotas o tempo todo, ouvi coisas que foram ditas com o intuito puro e simples de me magoar (e gente que me conhece bem, batendo aonde dói), e ao final do Domingo, para fechar com chave de ouro, tive que ler um "não enche mais o saco" de uma das pessoas que mais importam para mim. Foi uma conversa esplendorosa, realmente. Em suma, TODAS as pessoas que me conhecem o suficiente para saber como me atingir, nesse fim-de-semana fizeram pleno uso disso. Mas por um lado é legal, me deixou muito feliz e seguro da política que eu adotei já há alguns meses, de não me aproximar demais de ninguém. Ao menos vários anos tomando na cara me deram alguma habilidade de previsão. Jamais entregue armas a qualquer pessoa, ninguém jamais se isenta de usá-las quando o momento é oportuno.


Aliás, aconteceu algo muito esquisito no meio de tudo isso. Na madrugada de Sábado para Domingo, acordei no meio da noite sem sono e sentindo uma vontade muito forte de ir andar na areia da praia. Tão forte que eu venci a preguiça e saí da casa. Quando eu cheguei na areia, foi assustador. Eu costumo ter um pesadelo recorrente que estou numa praia à noite, e as ondas estão chegando gigantescas e barulhentas. Como está de noite, eu ouço elas chegando mas só as vejo quando começam a arrebentar, vários metros acima da minha cabeça. E, quando dou por mim, estou dentro da água sendo levado, lutando contra a corrente e tentando não me afogar. E sempre tem gente comigo, e eu vejo cada uma das pessoas se debatendo dentro da água, mas nunca consigo chegar em ninguém para ajudar.

Pois é, quando eu chego na areia da praia, me dou conta que o cenário é idêntico ao do pesadelo. Mas uma coisa tão parecida que eu me arrepiei de medo! Cada vez que uma onda estourava eu pulava. E o pior é que não estava acontecendo nada, a arrebentação estava normal para as praias daquela região, mas eu estava MUITO assustado. Então resolvi que era uma besteira sem tamanho ficar com medo daquilo, parei de frente para o mar, a uma distância onde as ondas eventualmente atingiam minhas pernas, e fiquei lá. Nem sei quanto tempo. Só lutando pra vencer o medo irracional. Acho que foi uma das experiências mais aterradoras da minha vida, sem exagero. Em um dado momento, eu fechei os olhos e me forcei a ficar assim um minuto. Ouvindo aquele barulho monstruoso e sabendo que eu estava ao alcance da água. E quando abri os olhos, a praia não me assustava mais. As ondas não pareciam tão grandes, nem a noite tão escura. Fiquei passeando pela areia, estava me sentindo muito bem. Voltei pra casa e dormi que nem uma pedra.


Tenho certeza que eu venci algum demônio interior naquela noite. Mas isso não me ajudou em nada a melhorar o fim-de-semana, ou em lidar com as merdas que atiraram no meu ventilador. E ainda descubro hoje de manhã que meu xampu estourou dentro da mala e manchou vááárias peças de roupa! Depois de um zilhão de quilômetros viajados na vida, eu dou uma mancada dessas.... pqp!! A minha enorme sorte é que eu tirei o celular da mala por um milagre. Porque a carteira foi pro saco também. Junto com muita coisa importante que tinha dentro.


Enfim... um fim de semana "mágico" realmente. Espero passar muitos mais iguais a esse depois que morrer e for pro inferno. Mas a vida continua, vamos ver se trabalhando e estudando eu esqueço.



Wind

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