12.12.01

A vida nos prega muitas peças. E nos inventa muitas sinucas de bico também. Quando você acha que a vida está complicada, não diga isso muito alto... em breve choverão motivos para você pensar na situação anterior com saudades. Existem coisas simples de se resolver, e coisas que desafiam nosso coração e nossa lógica. Como por exemplo: Como conviver com alguém que fere você copiosamente e sem a menor intenção? Como lidar com uma pessoa que quer seu bem, mas inconscientemente lhe causa o inferno?

Achei que estava melancólico hoje, mas descobri que estou é literalmente triste. Tristeza literal é aquela que não vem com mágoa nem rancor, e nem dor. Ela é pura, calma como uma lagoa cristalina, gelada como a neve, cinzenta como um entardecer nublado. Essas tristezas geralmente nascem de conclusões tiradas com ponderação, equilíbrio, e a seu tempo. E hoje eu cheguei a uma conclusão dessas, que me deixou essencialmente triste. Não consigo conviver, por mais que eu queira, com alguém que me fere querendo me acariciar. Não consigo, por mais ternura que haja nos olhos, suportar as pedradas que a mão que acaricia eventualmente e fatalmente me acertam. Não há rancor, não há mágoa. Pois não são agressões que sofro, é amor na fonte. Mas há uma incapacidade de traduzir esse amor da maneira certa. Há um erro - irreparável, pois nasce da própria natureza selvagem do ser - no processo, e mais e mais, eu sofro com a proximidade que deveria me trazer calor, com a sinceridade que deveria se traduzir em confiança e compromisso, com a naturalidade que me deveria ser dádiva.

Como então, fazer a pessoa entender, que me afasto não porque a odeio, ou porque estou magoado, ou mesmo porque não a ame? Como justificar, efetivamente, um afastamento se há tanta boa intenção, tanta necessidade de presença e contato? Como fazê-la entender que não é culpa dela, ou minha, ou de qualquer um senão o Deus que nos criou tão maravilhosamente defeituosos? E como suportar a dor no olhar de alguém que descobre que sua amizade é motivo de sofrimento ao objeto de apreço?

São perguntas para as quais não espero resposta, pois não há. Mas cada corte aumenta a cicatriz, e uma hora o sangue vai jorrar e manchar muita coisa, muita coisa ainda recém nascida, imaculada, inocente. É uma corrida contra o relógio, contra meu próprio organismo, é uma luta interior na tentativa de escolha do mal menor. Mas não existe tal coisa como um "mal menor". Um mal é um mal, e eu sofrerei imensamente, até o fim da vida, por causa dele...


Wind

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