19.11.01

(Escrito dia 16 de Novembro de 2001, às 00:05h)

Idéias. Sensações. Sentimentos.

Palavras sendo derramadas rudemente sobre um papel antes tão limpo... e para quê? Nós sempre mantemos uma pista do que nossos sentimentos querem dizer, mesmo quando fingimos a nós mesmos que não sabemos o que nos ocorre...

Mas há essas vezes em que simplesmente paramos de entender. Simples assim. Conseguimos analisar perfeitamente as nuances do que estamos sentindo, mas não sabemos o que é. E, mesmo diante de uma segunda análise levando-se em conta a possibilidade óbvia que descartamos a princípio por não nos deixar à vontade, ainda não há conclusão satisfatória.

Como será que isso acontece? Como será que nossa alma às vezes dribla nossa compreensão tão eficientemente? E para que servem estes momentos, se é que há para tudo uma razão?

Há um gosto amargo de desapontamento em meu ego. Não é agradável ficar no escuro quanto aos sentimentos de uma pessoa, imagine quando a pessoa em questão sou eu mesmo! Falta-me a percepção mais básica, mais vital. Se não me entendo, em que basearei o entendimento do resto do mundo?

É engraçado como eu fico em momentos assim. Parece que não tenho emoções, ou, analisando muito superficialmente, que estou deprimido. Mas o processo interior é mais complicado. É como se nenhuma emoção "engatasse". O ímpeto surge, e imediatamente a parte lógica da mente o abranda para examiná-lo, coloca-o numa coleira e o disseca, na esperança de voltar a compreender essa força estranha e selvagem que são as sensações.

Nessas horas, busco maneiras de me emocionar de forma segura e um tanto óbvia. Fico excepcionalmente susceptível à música, aos filmes, às imagens. Me emociono mais com poesia e com harmonias do que o usual. Talvez porque essas emoções sejam de certa forma fabricadas, elas passam na alfândega, e eu me agarro a elas instintivamente. Hoje é uma noite perfeita para, por exemplo, ler o livro de Neruda que ganhei da minha querida amiga e poetisa Déia, ouvindo Debussy talvez. O único problema - se é que classifica-se como problema - é que hoje o meu estado emocional calhou de acontecer durante uma viagem, outra situação forte na minha vida e de efeitos muito particulares no meu humor. Como será que isto se desenvolverá? A mistura de sentimentos confusos, uma viagem, Neruda e Debussy me parece fatal como um coquetel Molotov aceso. Não faço a mais remota idéia de quem ou o que eu serei quando o sol raiar amanhã - ou se serei.

Acho mais saudável não tentar prever ou adivinhar. Vou recostar a cabeça, abrir o livro, apertar o play, esperar o ônibus se mover, e ver o que acontece...

Wind (16/11/01).

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