19.3.02

Há no mundo coisa pior do que precisar muito dizer algo, e não ter a quem? Não por falta de um interlocutor, ou por que talvez ninguém que fosse compreender. O pior é quando existe uma única pessoa, ou um grupo bem pequeno, que saberia ouvir e saberia entender. Mas não pode. Ou não quer. Ou não vai.

É um saco essa necessidade súbita e violenta de expressar algo. O ideal seria que nunca precisássemos exteriorizar nada por qualquer outro motivo que não a vontade própria. Acomodaríamos tudo com folga na mente e partilharíamos só o que quiséssemos.

Mas o mundo é a coisa mais distante do ideal que se pode conceber. E eventualmente aparece essa gana que incha as veias, que pressiona as paredes da alma querendo sair, mas que se recusa a revelar-se senão para um único receptor, e nos torturando a cada minuto que permanece preso.

E mesmo quando encontramos a válvula de escape necessária, existe, é claro, a chance de que ela vá dispor das armas que lhe são dadas e lidar com a angústia. Mas a esmagadora probabilidade é de que ela não saiba controlar a fera, ou que ela simplesmente não fale o que queremos, precisamos, ouvir.

E aí a coisa toda explode, entra em erupção, desce queimando a alma como o magma algoz de Pompéia, petrificando nossa dor. E tudo o que nos resta é um museu frio de mármore, com os antigos amores preservados pra sempre pela lava da decepção, onde, volta e meia, vagamos desnorteados em sonho. Seja esse um sonho noturno, ou um sonho desperto, de olhos perdidos no infinito e semblante sombrio de tristeza...


Wind

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