18.1.02

Enquete engrandecedora da semana: Você já perdeu alguém aos pouquinhos?

É estranho como a maioria das pessoas, se perguntadas quanto à maneira que preferiam perder alguém querido - de uma única vez, ou aos poucos - escolheria a segunda opção sem titubear. Mas sabe que isso é uma bobagem? Perder de uma vez só é chocante, terrível, mas é rápido. Passa. Seu organismo se acostuma com a idéia e pronto, life goes on. Mas por outro lado, perder aos poucos não significa necessariamente ter tempo para se acostumar com a idéia. Significa ver as coisas dando errado e todos os seus esforços dando em nada. Significa manter uma esperança que é massacrada de novo e de novo até o último momento. É agonizar, estrebuchar, rezar pela eutanásia que nunca vem. Enfim, é algo muito pior do que uma perda meteórica.

É sufocante perceber que cada dia que passa a comunicação entre você e a pessoa vai se tornando mais difícil, até que um dia, você nota que estão falando línguas diferentes... É terrível ter a mesma perspectiva de encontrá-la que sempre teve, e cada encontro corresponder menos a essa expectativa... até que você percebe que não procura mais a pessoa, e sim alguém que não existe. E o choque de não encontrá-la é sempre forte, você não se acostuma nunca. É uma sina se sentir incomodado com coisas que você não consegue expressar, e quando tenta só gera brigas cada vez mais graves, e sem resultado nenhum...

E o pior de tudo isso é você se importar. Eu me achava um tanto frio e calculista, pois não são poucas as pessoas que já tive na minha mais alta estima, no lugar mais alto e mais brilhante da minha alma, e que hoje em dia são pessoas triviais para mim, cuja presença ou ausência não interfere com meu dia, e cujas notícias não causam em mim mais interesse do que o resultado de um jogo entre dois times para os quais não torço. Mas eu era é sortudo, porque agora eu sei que se importar é uma morte contínua. Perder uma pessoa é normal, acontece. Se vc não liga, parabéns. Mas e se vc se importa? Como é que fica? E se essa pessoa realmente é especial, além das amarras de tempo e espaço? Se é uma coisa que você sempre sentiu, sempre teve certeza - e ainda tem, de um modo melancólico - que era pra ser pra vida toda? Pra todos os momentos, 24h por dia, 7 dias por semana, alguém tão parte da sua vida que quase vivia ela junto com você? Se você não consegue se livrar dessa sensação mesmo depois que ela partiu de vez?

Aí só me resta calçar um tênis, sair pela rua, tomar vento na cara, comprar umas cervejas, e enxugar a lágrima solitária mas pesada, pesada de tristeza macissa, que rola pelo rosto. São dias como hoje que matam a gente um pouquinho mais. Sem alarde, sem balbúrdia, sem extremismo. Mas de forma certeira.


Wind

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