24.4.03

Aaah, de volta ao lar. No avião de volta pro Rio, com o pôr do sol às minhas costas e a noite adiante, achei que ia ser deprimente o final do feriado. Mas não foi. Primeiro porque eu amo essa cidade, e por mais anti-propaganda que se faça, basta botar os pés aqui para me apaixonar de novo. Segundo porque Floripa está cada vez menor no meu coração.

Antes de morar lá, Florianópolis era pra mim uma cidade de lembranças boas e acalentadoras, de inúmeras férias de verão, de brincadeiras, sol, alegria. Porém os 3 anos e meio em que lá vivi não me fizeram nada bem. Rompi relações com a cidade, desejei nunca mais voltar, nunca mais ter que lidar com o provincianismo e a mente fechada daquelas pessoas que povoam a ilha. Mas de certa forma, durante meus mais de 4 anos aqui no Rio, fui lentamente voltando a aceitar Floripa como uma cidade de férias de verão, de sol, de temporada.

Agora, nem isso ela é mais. O feriado inteiro eu olhei para a cidade e não pude evitar de pensar que já havia sido mais feliz ali. Os poucos motivos que ainda me ligavam àquele lugar lentamente se esvaem. Primeiro, que a Isa já não mora mais lá, e isso pesa muito. Mas o que mais me abalou foi o Jonathan ter ido embora. E isso é realmente estranho, porque ele já tinha passado um tempão morando em PoA quando eu ainda estava em Floripa, e isso não tinha me afetado tanto. E também porque, tecnicamente, ele está bem mais perto agora, morando em São Paulo. Mas me deu uma tristeza inexplicável chegar lá e não poder ligar pra ele e xingá-lo, não poder descambar pra casa dele a qualquer momento e já começar a ouvir o techno antes de dobrar a esquina, não poder chamá-lo pra fazer sandboard na Joaca ou jogar ping-pong no quintal. A cidade perdeu grande parte de sua cor.

Eu sei que é injusto da minha parte sentir isso. Afinal, em novembro de 1998, eu fiz a mesmíssima coisa. Saí de lá em busca do meu futuro. Aliás, fui o primeiro de nós a dar adeus. E todos os que eu deixei para trás ficaram sentindo o mesmo vácuo que eu sinto agora. Mas é inútil querer aplicar senso de justiça no que a gente sente, e eu digo que estou desolado com o fim ( abrupto, pra variar. Ele se mudou de surpresa ) de mais outra era na minha vida.

Ele é meu único primo mais velho, tanto por parte de mãe quanto de pai. Ainda que agregado, sempre foi pra mim um primo de sangue. Não que eu goste menos dos meus primos mais novos, eu amo todos, mas a relação é bem diferente. o Jonathan sempre foi o único membro da família para quem eu podia olhar e dizer "nossa, que foda as coisas que ele já fez!". Ele vivia inventando coisas novas. Sempre tinha uma brincadeira nova, ou fazia as coisas mais mirabolantes de sucata e objetos inúteis. Ganhou de meu avô o apelido de Professor Pardal quando era pequeno ainda. E eu sempre ia atrás, eu adorava. Tenho ele como role model desde que me conheço por gente, mesmo hoje sabendo que ele exagerava horrores e mentia descaradamente nas histórias dele só para me impressionar :D. Mas isso não muda nada.

Agora, ironicamente tanto tempo depois de mim, ele fugiu da utopia pseudo-feliz de Florianópolis e se atirou no mundo de verdade. Tenho de dizer que requer coragem. É muito mais fácil ficar numa cidade pequena e pacata onde as coisas todas têm uma amplitude muito menor. É muito mais fácil levar uma vidinha amena. Mas ele, assim como eu, quis mais do que isso. Nós temos sede de vida real, sede de experimentar, de dar com a cara no chão e levantar de novo sabendo melhor o que se deve e o que não se deve fazer. São Paulo vai ser cruel com ele, assim como o Rio foi cruel comigo. Mas é uma experiência e um crescimento que não pode ser medido em cifras ou compensado em similares. A única coisa chata é que a partir de agora, quando eu o encontrar, seremos dois primos que não se vêem há tempo, sentando num bar e bebendo e conversando sobre coisas da vida adulta.

Os tempos de sandboard, ping-pong, videogame, piadas ruins e simplesmente ficar fazendo nada e se divertindo por horas, esses definitivamente se foram.


E para os que acharam que esse post ficou muito gay, bem... fuck you :)


Wind

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