10.7.02

A maioria das vezes que pensamos nos bons tempos que se foram - quaisquer que tenham sido - pensamos neles com ternura e aquela saudade gostosa de "ah, como era bom"...

Mas uma vez ou outra, a saudade que vem não é gostosa. É enorme, opressora, sufocante. Capaz de deprimir até o mais leve dos corações. É mais do que uma saudade, é a plena consciência da perda inevitável de valores e de fé que as quedas da vida nos forçam a ter. É a vontade íntima de ainda poder crer na utopia, ainda ter esperança em coisas comprovadamente fantasiosas.

Hoje sinto falta de muitas coisas. Um exemplo dos mais ridículos, sinto falta da época em que eu acreditava que poderia voar. A vida, tecnicamente, era a mesma porcaria. Mas ah, como a expectativa melhorava as coisas! Como a idéia de que um dia tudo ia ficar mais divertido fazia com que o peso sumisse... Eu parei de acreditar nisso há muito, muito tempo. Mas não queria.

Há um tempo atrás, por motivos igualmente saudosos, eu voltei a acreditar que podia voar. Uma crença menos literal, mas igualmente mágica. Mas meu vôo não durou tanto quanto eu gostaria, e a aterrisagem foi catastrófica. Hoje eu ando com os pés bem presos no chão. Uma vida que, sob a luz de qualquer análise crítica, é muito mais regrada, disciplinada e saudável. Mas quer saber? É uma merda! É um vazio sem fim, um frio, uma cegueira voluntária. É pequeno, é ralo, é insosso. É ter a perspectiva de continuar na mesma para o resto da vida. E isso para mim é morte cerebral. Prematura.

Perdoem-me o fatalismo, mas é que, vez ou outra, bate uma saudade que não é gostosa. É enorme, opressora, sufocante. E é melhor exorcizar, antes que ela faça as cicatrizes sangrarem.



Wind

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