31.10.02

A culpa é do olhar. Aquele olhar apagado, opaco, aquela nuvem cinzenta e carregada, no centro da pupila. O foco no infinito. O breve silêncio antes de falar.

A culpa é da verdade implícita nisso tudo. A culpa é da máscara que escorrega por um segundo, mostrando o rosto verdadeiro, sem maquiagem, sem brilho, por trás.

A culpa é do suspiro, alto e profundo, que surge sem aviso e muitas vezes passa desapercebido. Mas não a mim.

Quando o sorriso lascivo volta, quando a rodada continua, já é tarde. Eu perdi o jogo, mesmo que ninguém saiba. Continuo a partida por mero protocolo. Eu sei que é inútil.

Há algo em olhos tristes que me suga, me engole. Há algo em lágrimas insinuadas que jamais são choradas, que penetra minhas camadas como uma bala de fuzil, rumando ao coração. Contanto que não seja fingido - a diferença é gritante. A tristeza espontânea me fascina. Me derruba do cavalo. Me remete a uma parte de mim que não cresceu, nem nunca crescerá. Aquelas armadilhas psicológicas que você sabe que funcionam contra você e não pode fazer absolutamente nada quanto a isso.

Pois você não quer.



Wind

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