15.9.08

E lá vamos nós de novo. Peço desculpas aos eventuais leitores, como sempre, por mais um desabafo blogado. Mas a verdade é que desabafos fazem parte desse blog, basta olhar o histórico para ter uma idéia. Aliás, por mais que eu tente sempre dar um rumo mais coeso para esse treco, a verdade é que ele reflete a minha própria pluralidade. E isso é bom, porque mais de uma vez eu já recorri ao histórico de posts para reavaliar sob outra ótica os momentos que eu já vivi - impressos não apenas nos posts enormes e filosóficos, mas também nas entrelinhas dos posts corriqueiros. O blog é meu espelho, e como qualquer espelho, nunca reflete o que queremos ser, só o que somos.

E o que eu sou - já fui, estou tornando a ser - é uma pessoa ancorada a uma rocha pesada e que atravanca meu progresso. Desde as recentes reviravoltas da minha vida - que certamente não são novidade para ninguém - estou me sentindo novamente como naquela longínqua época pré-Ritalina. E o pior é que agora não tem comprimido que resolva miraculosamente. Essa rocha, só o tempo vai erodir.

Por um lado, não me deixo prejudicar tanto por ela, porque tenho longa experiência em arrastar pesos pela vida afora. Mas por outro lado, tudo o que eu conquistei desde que iniciei meu tratamento está por um fio. Novamente sou incapaz de manter o foco, de prolongar esforços, de acompanhar raciocínios... só que agora tenho compromissos com a concentração que precisam ser honrados. Sou o único responsável por várias frentes de trabalho no tribunal, estou entrando no último ano da faculdade, e um deslize agora pode botar muita coisa a perder.

Também tenho plena consciência de que o peso foi colocado por mim, e só pode ser retirado por mim. Mas entre conhecer a solução e alcançá-la sempre existe uma barreira invisível, porém poderosa. Porque quanto mais ancorado eu me sinto, menos vontade eu tenho de reagir. Pode parecer idiota, mas é um efeito comum no meu dia. Sua manifestação mais clássica é também a mais irônica: a despeito de todas as histórias sobre dependência química causada pela Ritalina, confesso que só tomo o remédio diariamente por pura disciplina. Porque assim que o efeito passa (e passa de 4 em 4 horas, então eu tenho que tomar outra) o que acontece é que eu me convenço que não preciso de outra. E quanto mais enevoada fica a cabeça, quanto mais me esvai a capacidade de prestar atenção, mais difícil pra mim é o simples ato de pegar outro comprimido e tomar. Existem alternativas, comprimidos que têm dissolução lenta que se estende por 12 horas, e evitam esses vales ao longo do dia. Por que eu não tomo? Acho caro. Não consigo priorizar, sempre tem algum gasto (ou economia) mais importante.

Minha maior dificuldade atualmente é escapar das armadilhas do instinto, que insiste em me levar a situações viciosas. É difícil, por exemplo, me forçar a sair e ver pessoas no fim-de-semana, quando o instinto me diz que eu quero mesmo é ficar sozinho. E aí, quanto mais tempo sozinho eu passo, mais deprimido eu fico e, por consequência, mais avesso à idéia de sair ou de falar com alguém. E por mais que eu evite essa situação 90% das vezes, os outros 10% são suficientes para acabar comigo.

É foda, saber exatamente o quadro clínico e o tratamento para o que se está sentindo, mas ser incapaz de aplicar. Isso sem falar nas tentativas fracassadas de resolução. Porque eu ainda tenho um certo nível de ingerência sobre a situação toda, mesmo que se resuma a escolher entre duas dores qual eu prefiro sentir. Havia escolhido uma, que se mostrou insuportável, e corri para a outra na esperança de ter algum alívio momentâneo na troca. Mas não faz diferença. Seja qual for a natureza e o ponto de efeito, a dor suga as mesmas energias. Trocar, digamos, uma dor de cabeça muito forte por um braço quebrado, apesar de parecer inteligente na hora, no fim das contas não tem qualquer outro efeito além de machucar você em dois lugares ao invés de um só.

E assim eu vou seguindo. Tentando não parar para não assentar a pedra e ter que vencer o coeficiente de atrito outra vez quando precisar continuar. Mas não consigo fingir que a dor não existe, nem dispensar menos atenção a ela. E não consigo estar 100% enquanto não cortar as amarras. Acho que nem 50% eu consigo atualmente. Só espero que tenham paciência comigo. Juro que estou me esforçando!


Wind

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