9.7.03

Geralmente eu não falo de política abertamente, não porque seja ruim falar de política - pelo contrário, é bom e necessário - mas porque as últimas décadas geraram em todo brasileiro uma aversão justificável ao assunto, de modo que adentrar discussão política hoje em dia se assemelha a querer discutir religião ou futebol. O que é bobagem, religião (e futebol também, por que não) é questão de fé, e fé é pessoal, intransferível e indiscutível. Política é por excelência um assunto comunitário, que dever ser extensamente debatido e discutido, sempre em busca de consenso, pois só uma política consensual é democrática.

Mas ontem, quando fui à UFRJ fazer as últimas provas do semestre, não pude deixar de notar e me indignar com essa nova greve dos servidores, à qual a UFRJ está tendendo a tomar parte. O fato é ainda mais difícil de se ignorar se levarmos em conta que meu prédio e andar são os mesmos da Geografia - notável antro de proliferação de """"políticos estudantis"""", com todas essas aspas mesmo. Ou, para ser mais específico, de ativistas do PSTU. Aliás, ô partidinho idiota esse, me desculpem, especialmente o João Sol, meu primo querido que calha de ser um associado de carteirinha. Mas sinceramente, alguém já parou para ler o que os militantes do PSTU escreve? Eu já. Tem um mural na frente da minha escadas com várias dessas pérolas, difícil de ser ignorado. Na verdade, eu tenho certeza que toda reivindicação do PSTU é feita recortando as palavras-chave da manchete do caderno político do dia, misturando as básicas como "FMI", "Neoliberal", "Privilégio aos Bancários" e "Má distribuição de renda" no mesmo saco, tacando pra cima e transcrevendo na ordem em que elas caem no chão. Sério, tudo é culpa do FMI e do governo neoliberal, independente de que governo seja. Não importa o que aconteça, é sempre culpa do FMI, do Neoliberalismo e dos Bancos. Ora, fala sério. Será que eles ao menos lêem alguma coisa?

Esses militantes estudantis adoram reivindicar. Não conseguem se sentir bem consigo mesmos sem uma boa reivindicação na ponta da língua. Até falta de papel higiênico no banheiro deles é a desculpa perfeita para demonizar os governantes, a "elite", e reivindicar revoluções socialistas. Eles não têm a menor noção do que é governabilidade, negociação, ou cenários internacionais. São incapazes de fazer uma projeção de consequências de uma mísera semana no futuro. Aliás, não fazem nada. Só reivindicam. Pedir é muito fácil, mas qual a contribuição real deles para o cenário?

Não é a toa que ninguém cuja noção de mundo ultrapassa os limites do campus dá a menor atenção ao PSTU. Só quem leva a sério esse esquerdismo radical e ignorante deles são os universitários radicais e ignorantes, e os desavisados de plantão, que não se envolvem com política e vivem anunciando aos quatro ventos que a solução para o país é chutar o balde. Mas mesmo esses preferem votar no Enéas (que, convenhamos, em termos de balde, chuta o dele mais longe que qualquer um).

Aliás, universitário e política é uma relação complicadíssima. Sem a força estudantil não há uma representação correta do país, mas ao mesmo tempo, a força estudantil há tempos não representa nada, exceto chavões esquerdistas que eles já nem lembram mais o que significam, apenas repetem como papagaios. Essa greve, por exemplo. Os cartazes de apoio a ela proliferam no Fundão. Sinceramente, quem quer que esteja apoiando uma greve é um completo imbecil. A última, que durou 3 meses e bagunçou todo o calendário - e a minha vida também - até Fevereiro desse ano, foi terrível. Mas naquela época, bem lembro, havia um real impasse e uma real reivindicação. O governo tava batendo pé e sendo irredutível, e a falta de reajuste dos servidores era de longa data e havia se tornado insuportável.

Situação completamente diferente dessa Reforma da Previdência, que está em franca e aberta negociação, aliás entra agora numa fase de negociações que estava anunciada como parte do projeto desde o primeiro dia. Qualquer reivindicação está sendo levada em conta, obviamente várias das cláusulas vão sumir, é procedimento básico de negociação, a proposta inicial sempre é maior do que a meta. Sempre. Não precisa ter nem diploma de segundo grau pra saber disso. E no entanto, os servidores estão entrando em paralização para terem as reivindicações - ah, sempre elas - ouvidas pelo governo. Isso é realmente necessário, se já há predisposição anunciada do próprio governo de ouvir as partes? Quer dizer, greve não é uma coisa legal. Qualquer greve deve ser pesada em termos de custo-benefício antes de acontecer. E infelizmente essa greve nada mais é do que cacoete de esquerda, porque ela não tem a menor razão de ser.

Matéria de hoje dO Globo, inclusive, revelou que as classes de servidores que puxaram a greve são as mais bem-remuneradas!! Dêem uma olhada aqui para ver os singelos salários dos que estão se opondo à reforma. Quantos celetistas vc acha que ganham isso integralmente quando se aposentam pelo INSS? Os militantes do PSTU que vivem reclamando da má-distribuição de renda deveriam abrir os olhos para isso: quem está reclamando do teto salarial e do fim da aposentadoria integral são os que recebem a maior fatia, e que não querem largar o osso. Quando antes na história do Brasil se viu Ministro do STF ameaçado de diminuição da sua renda? Olhem a lista de valores ali, realmente pretendem fazer greve para defender que esses caras continuem recebendo a mesma fortuna do governo sem trabalhar? A única classe relacionada ali que não recebe mais do que o suficiente são - oh, que surpresa! - os professores universitários. Esses estão na parada primeiro porque adoram uma paralisação e uma reivindicação, tanto quanto seus alunos. E em segundo, porque acham injusto não poderem mais se aposentar antes dos 55. Ora, que injustiça! Afinal, aos 55, sabidamente não se tem mais condição de exercer um trabalho extenuante como o de professor... ah, falem sério!!

Sem contar que todo mundo fala mal, mas ninguém leva em conta que há muitos anos a Previdência não gera mais receita. Não é uma simples questão de cobrar dos sonegadores as dívidas. Isso, mesmo que fosse possível, sustentaria a previdência por alguns anos e só. Gerando prejuízo todo ano, ela voltaria ao negativo rapidinho. As regras de previdência foram criadas numa época em que havia menos gente e a expectativa de vida era menor. Explosão demográfica demolindo o sistema previdenciário não é exclusividade do Brasil, estão aí os países europeus com o mesmíssimo problema. Não adianta reclamar, há que ser remediado. É claro que as classes de elite - que são as mais afetadas, não importa o que o anti-governismo dos esquerdistas por esporte diga - vão bater pé, chiar e dificultar. Agora, esse apoio popular que a esquerda radical quer gerar, é um tiro no pé de calibre .50

Ok, ok, foi um lapso galera, prometo que não falarei mais desse assunto :PP



Wind

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