2.6.02

Sem noção

Ontem foi o casamento de minha mãe, e foi muito lindo. A festa não foi nada convencional (famíla de artistas...), todo mundo se emocionou, e blablabla. Eu gostaria realmente de escrever sobre isso. Mas eu demorei demais, e outras coisas aconteceram, que merecem ser blogadas. Nada de divertido, muito pelo contrário. Esse post deve ser um dos mais revoltados da minha carreira. Fala sobre a frenética valsa dos desequilíbrios, dos desencontros, dos fracassos. Fala sobre minha noite de hoje.

Eu conheço de cor e salteado o papo de que as quedas trazem lições valiosas, na verdade eu sou um dos pregadores dessa idéia. Mas realmente, existem situações que só trazem lições antigas que já cansamos de aprender, e principalmente, de perceber que nunca passaremos nessa matéria. Por pura incapacidade. Vamos a elas:

Lição 1: Família Sabe Como Enlouquecer Você

É sério. Existem pessoas capazes de permanecerem impassíveis diante dos mais diversos tipos de provocação verbal de qualquer pessoa, mas não dura 5 minutos sem explodir violentamente se a pessoa é parte da família. Eu sou um cara desses. Não consigo, simplesmente não dá. Eu ouvi a mesma ladainha por vários anos da minha vida - todos, para ser exato - e ela saturou. Saturou além do limite. Não adianta vir com 'deixe estar', com 'você está certo, mas eles não vêem'... esse papo não alivia. Quando começa a babaquice, eu saio do sério. Sem atenuante conhecido. E eu fora do sério sou uma pessoa muito pouco tratável. O que nos leva a...

Lição 2: Nada Pior Para Seu Estado De Nervos Do Que Alguém Esfregando A Verdade Na Sua Cara

Olha, eu não endosso meu comportamento 100% do tempo. Em situações de estresse, eu realmente fico babaca. Agora, sinceramente? Só tem uma coisa a ser feita nessa hora, e é ME DEIXAR QUIETO. Várias vezes eu simplesmente resolvo me afastar das pessoas, num ato constantemente confundido com birra ou orgulho. Mas não é. É simplesmente porque eu me tornei uma companhia desagradável por N minutos, e até lá não vou interagir com ninguém porque não será produtivo. Mas nessas horas, o que as pessoas fazem é escolher um de dois cursos de ação terrivelmente ruins: ou ficar insistindo para que eu interaja e diga "o que aconteceu", ou ficar falando para mim que meu comportamento é isso e aquilo! Ainda pior, quando eu paro de dar atenção para evitar uma briga, a pessoa se vira para outra e fala de mim na minha frente!! Aí me desculpe, vai pra PQP! Minha tentativa de evitar interação vai pro espaço na hora, e é bem aí que eu ataco, agrido, magôo, faço de tudo. De tudo mesmo. Acho que nessa vida já me disseram que eu tenho todas as qualidades negativas que uma pessoa pode adquirir. Me faz pensar se eu sou o demônio na terra, pq se não for, ele tem inveja de mim, ah tem. Meu currículo de adjetivos é impressionante. Só não sei como eu me aguentei até hoje - e até digo que gosto de mim. Será que eu sou o único capaz de me aguentar 24h por dia? De qualquer forma, quando a bomba estoura, geralmente é o fim prematuro do dia. O que me leva à....

Lição 3: Eu ODEIO Imprevistos

Ok, ninguém gosta. Nada mais chato do que ver planos dando errado. Mas eu simplesmente ABOMINO isso. Abomino a ponto de direcionar toda a minha vida no sentido de NÃO passar por isso. É uma sensação prolongada, intensa, um processo demorado até a última fibra do meu ser parar de gritar, socar as coisas e chorar convulsivamente porque algo deu errado, até a idéia de que "isso não aconteceu, na verdade ainda está tudo para acontecer como antes" vá embora da minha cabeça definitivamente. Não sei dizer por que é assim, mas sei dizer que é. E não há nada para se fazer. Hoje em dia eu até controlo mais o choro e a violência, mas a vontade está sempre lá. E é um esforço hercúleo para controlar. Porque toda hora volta, volta a materialização da coisa que era para acontecer, volta a noção de que a única certeza que eu tenho sobre amanhã de manhã é que NÃO será como eu pensava. E isso me derruba mesmo. É meu calcanhar de aquiles, aquela fraqueza estúpida e inexplicável que todo mundo tem. E sob os efeitos dela, eu não me comporto como o mundo acha que deveria. Só lamento, mas não me comporto.

Essas são 3 coisas que eu já sei há muito, muito tempo. Mas ainda assim, hoje foi tudo jogado em cima de mim de novo, um lembrete desnecessário de coisas que estão 24h por dia na minha mente. E por quê? Analisando friamente, a culpa não foi de ninguém. Todos estavam sendo levados de uma forma ou de outra por emoções, a situação se formou, eu interferi, a bomba estourou no meu colo e no fim das contas ninguém tinha culpa - exceto eu, claro. A culpa foi minha, o erro foi meu, porque para os outros que se deixaram levar pela emoção, pedir desculpas adiantou. Para mim não. O que me leva à última lição manjada da noite:

A realidade é relativa às circunstâncias.



Wind

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