É um momento delicado, esse. A hora em que o avião deixa a segurança total e absoluta do chão e ganha altitude. Até este momento, se eu quisesse pular fora, era fácil. Era um pulinho, ou nem isso, só descer os degraus de volta. Mas quando o trem de pouso desencosta do chão, é inevitável olhar pela janelinha e pensar que agora não tem mais volta. Que ou se chega até o fim do vôo, ou se cai lá de cima para um final espetacular muitos metros abaixo. Um pensamento assustador, ainda mais levando em conta que o destino e a duração do vôo são incertos.
E quantas vezes, quando esse mesmo avião deu pane, eu não olhei para fora com lágrimas nos olhos e desejei muito ainda estar no chão, para poder saltar fora com um pulinho. Mas não. Se a aeronave estola, pifa, entra em parafuso, é ou cair ou cair. E a certeza da dor do impacto é ainda maior do que a certeza da queda. E sempre haverá aquela semi-risada irônica ao pensar que, quando vc estava no chão, o avião podia até explodir em pedaços que você não ia se machucar. Que você, por livre e espontânea vontade, condicionou seu bem estar ao funcionamento daquele gigante metálico sobre o qual você não tem controle algum. Apenas segue as regras internacionais de segurança e torce pro comandante não ser um troncho.
É difícil botar um sobrevivente de acidente aéreo de volta num avião, e se estou alçando vôo outra vez, é porque a companhia fez um ótimo trabalho em me convencer que dessa vez é seguro mesmo.
Mas, olhando para fora da janelinha, vejo o chão cada vez mais longe. E me dá um friozinho na barriga.
Wind
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