6.10.08

Uma vez, quando eu tinha coisa de 4 ou 5 anos de idade, meu pai me conta que uma vez cheguei contrariado do colégio e, quando ele me perguntou o que tinha acontecido, eu disse que queria sair da escola porque eu já sabia tudo. Claro que eu só estava tendo dificuldades em aceitar o ritmo mais lento de aprendizado do resto da sala, entendia as coisas logo de primeira e ficava entediado o resto da aula enquanto as professoras repetiam várias vezes a mesma coisa. Mas a minha sensação naquela época era sincera. De que eu já sabia tudo que existia para se saber e podia seguir com minha vida.

O que é o oposto do que eu sinto hoje em dia. Quanto mais o tempo passa, mais as coisas se desenrolam de forma inexplicável para  mim e mais eu percebo que não entendo de nada, nem do que eu tinha certeza entender. Mais e mais eu sinto que nada do que me falam, do que me ensinam, do que me afirmam, nada é correto. Mesmo as coisas que eu aprendo através da experiência, do método científico, se provam incorretas a longo prazo. E nesse ambiente volátil e imprevisível, eu estou sempre tomando na cabeça por fazer planos, projeções, e criar expectativas.

Antigamente, antes da Ritalina, eu era incapaz de responder a qualquer pessoa aonde eu pretendia estar em 5 anos. Ou em 1 ano que fosse. 6 meses! Eu respondia que não sabia nem se estaria vivo na semana seguinte. E era verdade - depois da infância itnerante que eu tive, era uma imensa dificuldade projetar qualquer coisa para o futuro. Tudo sempre mudava completamente em 2 anos no máximo.

Depois que tomei as rédeas da minha vida e depois de um período de adaptação, me certificando que nada mais mudaria drasticamente contra minha vontade, eu comecei a construir um futuro e realmente fazer planos e projeções para os anos vindouros. Me sentia seguro e amparado, e certo de que eu sabia o suficiente do funcionamento das coisas para ousar traçar uma rota e seguí-la até o fim.

E de repente, depois de tanto tempo, uma tempestade maluca vinda do além virou o barco, quase me afogou, e me jogou junto com os destroços para algum lugar desconhecido e de onde eu não sei como sair. A rota que eu seguia foi tão obliterada que eu não sei nem mais pra que lado estou apontando. Eu achei que sabia navegar. Fiz tudo direitinho, segui todas as regras, li todos os sinais. E agora sou só um náufrago esperando resgate, mas sem fazer idéia de pra onde devo ir - ou voltar.

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