10.12.01

Por uma vida menos ordinária, Parte 1



Ok, conforme havia sido previsto, estou sem sono algum. Logo, estou assumidamente no plano B: ir dormir quando der sono, acordar cedo e passar o dia inteiro zureta de sono, para dormir cedo amanhã. Regular relógio biológico é uma merda. Melhor dar uma saída para refrescar a cabeça. E foi o que eu fiz.

Enquanto andava pelas ruas desertas do Flamengo nesse domingo à noite, eu comecei a pensar mais sobre a sensação esquisita que está estacionada sobre minha alma já faz um tempo. Uma sensação de que algo falta, mas não sei o que. Comecei a destrinchar tudo, e fui tirando algumas conclusões....

Acho que é o natal. Natal é uma época diferente do resto do ano. Não é como páscoa ou carnaval, ou qualquer outro feriado. Natal e Ano Novo, as famigeradas Festas de Fim de Ano, tem uma aura e um clima totalmente próprios. Não vou ser piegas e falar bobagens sobre espírito natalino nem ser iconoclasta e falar sobre a apologia ao consumismo. Pelo sim ou pelo não, natal mexe espiritualmente com as pessoas. Ao menos comigo.

Então por que eu me sinto tão vazio e pequeno ultimamente? E por que essa sensação de que tem algo a ver com o natal? Me pûs a relembrar natais passados... não os que passei na casa de parentes ou indo aonde a família fosse, esses não são base de comparação, mas sim todos os natais desde que vim morar no Rio, longe dos parentes e seus natais tradicionais. No meio das lembranças, encontrei uma sensação boa, presente em todos os natais, e que curiosamente eu não sentia agora...

Não dá pra explicar ao certo o que é. É mais ou menos uma sensação de aconchego, de algo te envolvendo, te abraçando, mas ao mesmo tempo te instigando, te desafiando, mantendo você interessado. Não sei se isso fez algum sentido, mas é o mais próximo que consigo chegar de uma explicação. Lembro-me de ter sentido isso fortemente em momentos específicos... no natal de 1998 para 1999, quando eu estava ajudando a mãe da minha então namorada a decorar a casa.... em 1999 para 2000, quando levei vários amigos para meu sítio e fizemos nosso próprio reveillon... e no ano passado, quando assisti aos fogos na praia de copacabana, esfregando a areia nas mãos e desejando intensamente por 20 minutos não ter que ir embora...

Talvez tenha um pouco a ver com isso também. Nos últimos 3 finais de ano eu estava esperando resultados de vestibular, e sem saber onde eu estaria em alguns meses. Isso com certeza fez com que eu vivesse mais intensamente. E embora eu tenha conseguido por 3 vezes consecutivas continuar morando no Rio, o futuro era sempre incerto. Agora, não há novidades. Estou na faculdade, num apartamento que é praticamente meu, e com a vida um tanto estabilizada. Não estou reclamando, pelo contrário... busquei essa estabilidade durante muito tempo. Mas há um efeito colateral que eu não previ. As coisas estão todas tão normais... nada de grandioso, nada de excitante, nada de desafiador. Nada de intenso. Esse natal sem férias, sem grandes viagens ou sem grandes reuniões, esse Reveillon sem virada de milênio (falsa ou verdadeira), sem aquele clima de "o mundo vai acabar então vamos festar pra caralho", me deixa murcho. Me sinto sozinho, sem uma turma a quem chamar e dizer "ei, vamos nos reunir e fazer aquele festão?". Em 98, eu era mais próximo da galera do Trails antigo... em 99, era a turma que frequentava minha casa nos saraus... Gurahl, Ritinha, Sarah e Gabi.... em 2000, a galera do Wicca (que eu conheci aliás há exatamente 1 ano e 1 dia, no saudoso IRContro de Taubaté!)... e esse ano? A micro-turminha de 4 pessoas com quem eu andava enjoou e se separou... e eu não consigo imaginar uma "festa" de ano novo ideal com mais de 2 pessoas, devido à imensa quantidade de "se ele for eu não vou" que rola hoje em dia, e, sinceramente, porque eu não me divirto mais com essa galera. E não adianta olhar para trás e tentar reaver as turmas tão legais dos outros anos, pois quem não sumiu ou provou ser um escroto babaca, hoje não tem assunto para meia hora de conversa comigo.

Fico pensando se fui eu ou foi a vida que me separou de tanta gente... mas acho que foram ambos. A vida, porque ela tem sido uma eterna roda da fortuna nesses meus 3 anos de Rio... e eu, porque no fundo, é minha sina de aquariano não ficar numa roda social por muito tempo. Mas é triste sair das rodas antigas sem ter nenhuma roda nova em que ingressar. E é exatamente essa a fase que eu estou atravessando. E justamente no natal. Que azar o meu.

Foi exatamente nesse ponto do raciocínio que eu passei na frente de uma das poucas árvores de natal que não é desligada depois de um certo horário para economizar energia, e de súbito me ocorreu uma realização inédita sobre minha fixação por luzinhas. As luzes de natal, especialmente as coloridas, tem sobre mim o efeito de causar aquela sensação, aquela lá de cima, quase que imediatamente. Fiquei lá mesmerizado, como sempre, mas dessa vez surpreso em perceber que minha sensação de vazio se desvanece quase que imediatamente quando eu estou olhando as luzes. Infelizmente, não podia ficar lá com cara de tacho o resto da noite, e vim para casa maquinando um plano de comprar amanhã uma árvore e um cordão de luzes para por na minha mesa homemade. Quem sabe assim eu fico menos solitário? Difícil vai ser ir pra cama... vou passar a noite inteira na sala olhando pra árvore e babando :P

Apenas mais um comentário.... EXATAMENTE há um ano atrás, na madrugada de 09 para 10 de Dezembro, eu vivi um momento muito bom da minha vida, com uma pessoa muito legal. A gente não ficou nem nada, não naquele dia, mas estava rolando uma química sem igual entre a gente. Uma coisa que até então eu não achava que existisse fora dos textos do período Romântico ou dos filmes água-com-açúcar de Hollywood (os bons!), mas que se provou deliciosamente real para um garoto surpreso e deslumbrado. Eram - como expressar em palavras? - dois universos que se tangenciavam, se tocavam, se entrelaçavam, e se atraíam.... eram todos os olhos, os da mente, os do coração e os da alma, olhando atentamente dentro um do outro... uma cumplicidade silenciosa e total, uma fascinação... o nosso quase-beijo no fim da noite selou alguma coisa que eu ainda não entendia o que era, mas que estava muito, MUITO envolvido para não tentar descobrir a qualquer custo.

Bem, um ano se passou, milhares e milhares de coisas aconteceram, a vida real atropelou o sonho como um rolo compressor, e hoje aquela menina sumiu da minha vida. Eu só queria que ela soubesse, onde quer que ela esteja, que eu sinto muitas saudades. Não que eu ache que vá acontecer novamente, ou mesmo que seja possível. Na verdade, acho que um ser humano só tem direito a viver uma coisa dessas uma vez na vida, e a minha já passou. Mas eu lembro disso com muito carinho. E muita nostalgia. Só queria que ela pudesse saber disso...


Um brinde ao Fantasma do Natal Passado.


Wind

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