21.9.03

Sonho difícil hoje. Daqueles que te deixam pensando... sonhei com o apartamento de Copacabana. Acho que é a primeira vez em anos que eu sonho com ele... e o sonho foi tão estranho! Sonhei que tinha entrado lá já com outras pessoas morando, estava tudo diferente, e eu andei por cada cômodo vendo todas as coisas fora de lugar que haviam... o sonho foi nítido, cruel, nesse aspecto. Foi chocante ver com meus próprios olhos aquela casa com móveis diferentes, com coisas diferentes, sendo o lar de uma pessoa estranha. Exatamente como ela é agora. E pra piorar, os novos donos do apartamento apareciam e me davam sermão dizendo que eu estava invadindo propriedade alheia e que agora a casa era deles e eu não podia mais simplesmente ir entrando... foi horrível, eu não tinha onde enfiar a cara. Nessa hora o despertador tocou e eu acordei com um enorme alívio de ter sido arrancado daquela situação.

Mas agora o estrago está feito. Estou sentindo saudades de lá, a primeira vez desde que minha avó me expulsou. Antes de hoje eu não havia me permitido sentir saudades, mas depois que o assunto sumiu da minha cabeça eu baixei a defesa. Fui pego desprevinido.

Dói muito a saudade de lá. É uma saudade inconformada, ainda mais porque hoje, agora, pela primeira vez eu juntei os fatos e percebi que se não fosse minha TDAH provavelmente eu ainda estaria morando lá. Morando lá, terminando a faculdade, com um emprego fixo... droga, quando eu achava que era tudo preguiça e incapacidade minha, as perdas doíam menos. Mas agora eu vou ter que carregar pra sempre o fato de que essa merda de Défcit de Atenção me tirou uma das coisas que eu mais amava, que hoje eu me permiti lembrar o quanto era importante, e me permiti sentir o quanto faz falta.

Eu não teria sido acusado pela minha avó de ser desleixado com o apartamento. Não ia ter dado motivos a ela para procurar uma desculpa para me chutar de lá. Não teria gritado com ela, não teria explodido em tanto ódio e tanta amargura. Eu seria uma pessoa mais calma, teria resolvido a situação direito, e ainda estaria lá, cuidando daquele lugar como quem cuida de um santuário sagrado. A única casa que morei durante a infância e que ainda existia, tal qual eu me lembrava. Agora não existe mais. Quando lembro do último dia lá, aquele lugar imenso absolutamente vazio, toda a memória extirpada, apenas uma carcaça... se eu tivesse me permitido ficar triste aquela hora acho que teria caído em depressão profunda. Hoje não chega a ser tão drástico, mas eu realmente não precisava ter sonhado com o apartamento cheio da vida de outra pessoa. Esse é um fantasma que eu pretendia ter enterrado uma vez só na vida. Mas parece que ele voltou, sorrateiramente, e me pegou direitinho...

Acho que isso prova que me livrar do DDA foi só uma vitória. Agora tenho que correr atrás de tudo que essa porcaria me tirou e reconstruir minha vida. E não vai ser fácil.




Wind

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