24.5.03

Ok, agora que eu já assisti a segunda vez, posso escrever aqui com mais segurança sobre Matrix Reloaded. Pra ser bem franco, eu não estava esperando nada. Por alguma razão eu não compartilho do fanatismo frenético que muita gente tem pelo primeiro filme. Na época que saiu, foi um arraso, fiquei bolado, achei o máximo, e tal, mas não passei os quatro anos seguintes imaginando como seria a continuação e revendo setecentas vezes para pegar cada pedacinho de referência do filme. Esse verão era pra mim muito mais X-Men 2 do que Matrix Reloaded, o oposto da maioria. E acho que apostei no cavalo certo. Não que Reloaded seja um filme ruim - de maneira alguma. Mas é um filme inconstante. Ao contrário da trama sempre ritmada e excepcionalmente bem-amarrada de X2, Matrix se perde entre explosões de ação, efeitos e acontecimentos de dilatar as pupilas, e longas, maçantes e desnecessariamente complicadas cenas de filosofia, metáforas e viagens na maionese. É um filme de extremos. A impressão que eu tenho é que o roteiro era um só para as duas continuações, e foi esticado para caber em dois filmes.

Algumas cenas em Reloaded não dizem a que vieram. Nenhuma é fora de contexto, claro, tudo o que acontece tem uma razão e uma explicação. Mas nem sempre é relevante. Por vários momentos, o espectador se vê pensando "por que estão há dez minutos desenvolvendo esse afluente do plot principal, se ele não vai levar a lugar nenhum?". Algumas cenas têm mensagens simples que demoram longos minutos acontecendo na tela. Outras são quilos e quilos de informação, filosofia, metáforas e enigmas empacotados em dois ou três minutos, tão difíceis de acompanhar que se o sujeito na poltrona do lado fizer algum comentário, vc perde a linha de raciocínio e nunca mais. Tanto é que inúmeros sites publicaram a transcrição do diálogo de uma das últimas cenas do filme, simplesmente porque NINGUÉM entendeu. Mesmo lendo em casa e pensando sobre o assunto, é raciocínio para se desenvolver durante horas.

Tenho que dizer que a segunda vez que vi foi melhor. Da primeira, ainda sem saber o que aconteceria, os textos metafísicos que de dez em dez minutos interrompem o andamento do filme para se desenrolarem pareciam não terminar nunca. Muita gente saiu da sala de cinema xingando. Já da segunda vez, o filme faz mais sentido. Acho que depois da quinta ou sexta, já estarei gostando do filme por igual.

Os erros principais dos irmãos Wachowsky em relação a essa continuação foram, não necessariamente nessa ordem: Ritmo, Complexidade, e Autoreferência. Sobre o ritmo é o que eu já falei, o filme se arrasta por longos e tediosos 25 minutos antes de começar, e de repente vai a mais de mil, freando outra vez de tempos em tempos. Muitas das cenas duram mais do que o necessário, e até mesmo algumas cenas de luta se estendem tanto que o espectador se cansa. Já quanto à complexidade, há uma diferença fundamental entre esse filme e o primeiro. Ambos têm uma base filosófica muito sólida, mas em The Matrix, ela era apresentada como um pano de fundo, um colorido a mais para quem quisesse se aprofundar no filme. Para quem só estava vendo um filme, tinha toda uma linha de história fácil de se entender. Isso foi esquecido em Reloaded. A compreensão de pontos cruciais à história estão atreladas a longas dissertações em tom acadêmico que atropelam o espectador três vezes e meia. Uma piscada, uma distração, e todo o sentido do flime já era. E aí, só nos resta esperar pelas cenas de ação - as melhores da história do cinema, devo acrescentar - que são vibrantes quando acontecem, mas intercaladas por inúmeras discussões que só servem pra dar tempo de ir ao banheiro.

Por fim, a autoreferência não chega a ser um problema tão grande quanto os outros dois, mas de certa forma incomoda. A ligação estreita entre Matrix Reloaded, The Animatrix, e o jogo de videogame Enter The Matrix é muito interessante, do ponto de vista que um completa o outro. Infelizmente, quem não é fã e não vai correr atrás do jogo, do DVD, dos livros, dos making-ofs, enfim, de todo e qualquer material relacionado, vai ficar boiando em várias cenas. E não vai entender o propósito de várias outras, que aparecem no filme claramente para fazer ligação com os animes ou o jogo.

Numa análise final, eu diria que Matrix Reloaded peca por seu hermetismo exagerado. Os diretores tentaram aprofundar o cenário, e acabaram num ponto no meio do caminho entre o filme-pipoca e o filme-cabeça, onde acaba não sendo nem uma coisa nem outra.

Mas tirado isso do caminho, é um dos filmes mais fodas de todos os tempos :)


Wind

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