13.4.03

É nessas horas, no meio da madrugada, sentado em frente ao computador sentindo um friozinho raro (ah, a dádiva de sentir frio no Rio), depois de sonhos cabalisticamente enigmáticos, que eu olho pros lados, ninguém no ICQ ou no IRC, é nessas horas que eu tenho vontade de falar. É nessas horas que eu lembro que eu tenho um Blog.

Pouca coisa é capaz de me fazer querer escrever aqui ultimamente. Acho que o tempo passa e a gente vai dizendo tudo que tinha pra dizer. É como um relacionamento. Uma vez iniciado, o caminho é sempre ladeira abaixo. Pelos primeiros meses se consegue dosar as informações de modo que pareça sempre haver novidades e surpresas, mas a partir de um certo ponto a carga acaba, e passa a ser a mesma velha história de sempre, contada cada vez menos, até que o que resta é silêncio.

Não escrevo mais aqui porque tudo já foi escrito. Está nos arquivos. Clique ali, leia, e saiba tudo o que se há para saber de mim. É a síndrome do fascínio passageiro. Olha que legal, tanta coisa interessante, tanto pra dizer... até que se nota que não é tanto assim. Que nem é tão interessante assim. E outra novidade surge, e as pessoas seguem. As pessoas seguem e esse blog fica. Eternamente congelado em seus moldes iniciais, sem mudança significativa, sem reformulação. O que, para um Aquariano como eu, é similar à morte.

Isso reflete muito a perda da minha capacidade de mutação. É paradoxalmente algo que eu sempre desejei. Sempre, enxugando as lágrimas dos olhos trancado num quarto pela última vez enquanto os móveis eram outra vez carregados para um caminhão. Muitas vezes eu nem os via de novo. Sempre uma nova casa, sempre uma nova cidade. Sempre uma nova identidade, ter que me reapresentar, me reencontrar. Pela minha infância e adolescência inteiras eu desejei não mudar tanto, me fixar, criar raízes e assim permanecer feliz para sempre. Eu abdiquei de minha capacidade de mutação natural em vista disso, e hoje minha vida é mantida por aparelhos psicológicos, e não passa um dia sem que eu queira puxar a tomada. Por que será que isso acontece? Algo que sempre me machucou ser tão necessário para que eu exista? Será então que a vida inteira estarei escolhendo o mal menor, e nunca um bem?

Já descobri que minhas crises de nostalgia não são desejo de não ter mudado. São uma vontade enorme de voltar àquelas situações que acabaram cedo demais para que o tempo as destruísse. Situações que se congelaram no tempo na minha mente, no exato momento em que eram perfeitas. Mesmo as que eu antes considerava as piores épocas da minha vida, eu interrompi no auge. Eu não deixei chegar aonde estou hoje. Sem rumo, sem noção, e sem esperança. Elas serão sempre melhores que hoje.

Isso me torna fugidio, e não pedirei desculpas nem me sentirei mal com isso. Pior é ficar. As pessoas que conheço, que amo, essas eu sempre abandonarei no auge. Sempre sairei por uma tangente quando elas não estiverem olhando. E sei que elas sofrerão, sofrerão o que eu sempre sofri, mas todas as vezes em que eu fiquei foram piores, muito piores. Antes ser lembrado com carinho do que tratado com desprezo.

Meu show já está velho, mas continua lotando a casa. Entrar na vida de alguém, bombardeá-lo com tudo de melhor que eu tenho, e assim que o arsenal acaba ir embora deixando a impressão de que havia muito mais. Mas não há. Impressionar é a premissa da magia. E minha mágica é daquelas que todo mundo sabe o truque, mas ainda assim aplaudem de pé no final.

Uma pena que eu soltei um trapézio e não vejo nem sinal do próximo no horizonte.


Wind

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