28.8.01

Um gremlin cor-de-rosa me disse ainda há pouco enquanto dançava a hula: "Ou você tenta dormir e não consegue, ou você escreve sobre o que você passou e não dorme".

Bem, eu obviamente fiz minha escolha, e esse texto é sobre peixes fora d`água e similares.


Numa semana que poderia facilmente ser intitulada "Guia Completo De Maneiras De Ter Sua Auto-Estima Esmigalhada" (e ela começou ontem! socorro!!), hoje eu experimentei uma nova e fantástica sensação de inferioridade, que na verdade não é nova, mas que há muito tempo eu não tinha o desprazer de vivenciar.
Vocês alguma vez já se sentiram deslocados? Quero dizer, sobrando mesmo? Não sobrando como em "ah, estão me desprezando então desprezarei de volta, eles não merecem o que eu tenho a oferecer", mas como em "eu não sei o que estou fazendo nesse lugar, isso tudo é muito maior do que eu e eu sou um idiota de achar que faço alguma diferença ou que tenho algum direito de estar aqui". Em outras palavras, vocês já se sentiram pequenos e mesquinhos diante de algo que transcende vocês?
Pois é assim que eu estou agora. Abençoado seja o whisky, que trata de passar fogo em qualquer neurônio rebelde que insista em ficar gritando coisas. O melhor mesmo nessas horas é sair com o rabo entre as pernas e ficar calado, e quem sabe as pessoas esqueçam o quanto você é fútil e, talvez, você possa ganhar sua ilusão de significância de volta amanhã, se for um bom menino.
É como pensar em um mortal que vive e anda no Olimpo. As divindades até dão atenção a ele eventualmente, conversam com ele, deixam ele sentar na mesa do café com elas.... Ele se sente importante, grande, significativo. Mas, às vezes, as divindades têm algo sério em mente que não frivolidades diárias, e nesses momentos, eles ignoram completamente a presença do mortal ali entre eles. E ele, que se julga à altura dos deuses, como se sente, ao ser incapaz de ser notado quando os assuntos ficam sérios? Afinal, esse mortal não anda mais entre mortais, acostumado que está com a companhia de deuses. Mas também não é um deus, e não pertence ao panteão. Qual é o lugar dele? O que ele é afinal? Não teria ele, ao final, se tornado insignificante tanto para deuses quanto para mortais?
Escapando dessa subjetividade insandecida, tenho a dizer que a pior coisa do mundo é não significar para alguém nem um terço do que essa pessoa significa para você. Você pode até ser bem-prezado, querido, se sentir um igual a maior parte do tempo. Mas fatalmente, uma hora a coisa pega. Uma hora você percebe que a relação é unilateral, e que o que você está oferecendo, a pessoa tem melhor e em maior quantidade vindo de outro lugar. E você se ferra, pois você não recebe nem metade do que ela te dá de qualquer outra pessoa. E aí? O que fazer? Como evitar de achar que você foi um irresponsável, louco, cego e mesmo burro, a ponto de entrar numa roubada dessas? Não, meu amigo. Longe disso, a única coisa que você consegue na hora é se sentir incompetente e incapaz. Onde foi que você errou? Onde você falhou, onde foi negligente, onde foi descuidado? E aí você nota: não foi. Você deu o melhor de si, e o melhor de si não foi suficiente. Pegaram seu precioso melhor de si e chutaram para escanteio.
É a dura realidade, irmão. Você não foi feito para aquela pessoa, e aquela pessoa não foi feita para você. Infelizmente. Por mais que a poesia e o romantismo digam o contrário, por mais que você se recuse a acreditar, não foi. Ela quer o que você não é, muito embora talvez você queira ser com todas as suas forças. E se você quer o que ela é, só lamento. A vida tem ganhadores e tem você.
Talvez o melhor mesmo seja encher a cara, dormir, e quando acordar fingir que nada aconteceu. Tudo vai voltar ao normal e você pode se convencer de que foi tudo um erro, um lapso, ou até invenção da sua cabeça. Que você é importante e que você é necessário e tudo o que você queria ser para o outro. Ignorance is bliss, mesmo a ignorância seletiva. Dói menos a curto prazo, e a longo prazo, você pode sempre botar a culpa na situação.
Mas tem vezes que simplesmente não dá. Tem vezes que o melhor mesmo é ir embora e não voltar nunca mais, e passar o resto da vida se agarrando à idéia de que você está fazendo falta, muito embora no fundo você saiba, e já tenha sido avisado milhões de vezes, que não vai estar. Às vezes o orgulho fala mais alto, e você inventa para si um valor provisório e irreal, combustível adulterado para o ego, e taca o pé na estrada. Não se enganem, essa solução é tão ruim quanto a primeira. Existem sempre aqueles casos em que você realmente significava algo, e esses casos são mais frequentes do que nossa mente extremista consegue aceitar. A solução verdadeiramente correta é igualar a balança o mais rápido possível, e tornar a relação recíproca e saudável. Por mais que pareça a solução mais difícil das três (and indeed it is), é a mais correta e mais completa, como não podia deixar de ser. E acontece. Mais frequentemente do que se percebe.
E acima de tudo, um jogo só termina quando acaba. Qualquer emoção, qualquer situação, po mais líquida e certa que pareça, é só o presente. E já diria minha avó, "O futuro a Deus pertence". Portanto, faça como eu farei agora. Deite a cabeça, durma, durma muito, e acorde longe desse presente escroto que você está vivendo agora. Acorde no futuro e veja o que o destino deixou lá, num pacotinho, reservado para você. O máximo que pode acontecer é piorar. Mas isso SEMPRE é possível, logo... por que caralhos não arriscar?!

Espero não ter matado ninguém de depressão (por diversos motivos) ou de sono nesse texto. Mas é um desabafo, e ei, você lê se você quiser! O propósito da damn página é esse, né não?

Um bom dia/tarde/noite/whatever para vocês... câmbio desligo....

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