É curioso olhar para trás e pensar em quanta coisa aconteceu no último ano. Há muito tempo já eu vinha tendo aquela sensação de que os anos passavam muito rápido, sem dúvida consequência de uma vida levada em função da espera. O tempo voa quando não se está indo a lugar nenhum. Os últimos 365 dias, no entanto, me pareceram mais longos do que os 1000 que os antecederam. Nem tudo o que aconteceu foi bom - pra falar a verdade, eu diria que foi bem equilibrado entre momentos bons e ruins, entre a glória e o fundo do poço. Assim é a vida nas CNTP, então nenhuma novidade. Mas sem dúvida, muita coisa aconteceu. Ou eu passei a perceber mais os acontecimentos ao meu redor, a me envolver mais, sei lá.
Penso muito sobre meus irmãos, que completam 3 anos de vida daqui a alguns dias. Quando eles nasceram, parecia que estavam crescendo em fast-forward. Mal eu havia piscado, já estavam fazendo 1 ano. Outra piscada, e faziam 2! Isso me deixava angustiado, por achar que estava perdendo a infância dos meninos, morando tão longe. E também me incomodava porque esses 2 anos deviam ter valido tão mais para eles do que para mim. Nas minhas mais antigas memórias, 2 anos de vida pareciam uma eternidade. Especialmente porque normalmente esse era o máximo de tempo que eu passava morando no mesmo lugar, estudando no mesmo colégio, com a mesma turma de amigos. Aprendi que em 2 anos se vivia uma vida, e eu vivi várias.
E no entanto, enquanto planejo uma escapada para ir vê-los agora no terceiro aniversário, fico feliz em perceber que a sensação mudou para "nossa, eles estão fazendo SÓ três anos!" E que o último aniversário deles parece que aconteceu há decadas.
Foram muitas micro-vidas nesses 12 meses. Muitos projetos, muitas realidades diferentes. Lugares novos, rostos novos, rostos antigos que eu nem havia percebido o quanto me faziam falta. Novas direções, novos tropeços, novos pontos de vista que modificaram completamente coisas que eu achava que conhecia muito bem. E se por alguns instantes eu tive receio de estar sendo leviano, sei que é natural da infância - qualquer infância - que os momentos sejam muito intensos e muito efêmeros. E eu aprendi a gostar deles assim. A suposta segurança que a estabilidade traz, aquela que eu almejei durante toda a minha história de mudanças e recomeços, tem um lado sombrio que atualmente não me interessa. Prefiro o demônio que eu conheço.
Muitas dessas revoluções estão acontecendo dentro da minha cabeça, e eu sei melhor do que deixar transparecer. Mas estão lá. E estão sendo devidamente registradas, mesmo as mais passageiras e as mais desagradáveis. Têm o gosto agridoce da familiaridade misturada com a novidade. E o alívio de não precisar mais ser o vencedor que conquistou seus demônios e suas limitações, físicas e químicas, e virou perfeito - um perfeito boçal. Chega de me preocupar em manobrar a vida em direção a um futuro que não sobreviveria ao escrutínio do tempo e da lógica de qualquer forma. A instabilidade não é tão ruim para quem se criou nela, e o carinho com que eu recordo os últimos 12 meses da minha vida me fazem pensar que a vida é melhor aproveitada de momento em momento, sem se preocupar com a continuidade.
Que venha o meu próximo neoaniversário. Tenho fome de viver.
Wind